segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Antes de chegar até aqui


Ah, meus eus de tantos quereres. Que percorreram estradas e linha das mãos; veias e corações. Estes todos de uma única nascente que manteve por tempos – santificando – imagens a que pudesse adorar . Amar e não perceber o que lhe era real. Tira-se dessa cama, dessa veia. Puseram-se em azulejos fétidos de alguns banheiros, nos cantos imundos de corações pequenos e apertados. Libertaram-se para a solidão e trancafiaram-se na liberdade que esta lhe dá. E das previsões se desviou, e do destino nem se falou. Nos últimos momentos, queriam se afundar numa boa dose. Queria não querer. E quis. Todos os eus em sintonia com um só tu. Perfeita e inédita. Quereres em cada raio daquele sol. Naquele derradeiro frio e nas voltas que dão nosso suor. Antes de chegar até aqui o eu iludido, enxergou; o eu egoísta, se doou; o eu machucado, se embriagou; o eu turista, se acomodou. E, de pés plantados para o agora, há de ser esse nosso estranho e desejoso querer.


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Tiene le hechizo


De rédias à controle. É um pouco do que se tem que ter em cada uma delas. E quando a ela os foge deito a cabeça na lembrança daquele corpo. Da situação. De estar imerso nesta, atado pelo movimento de alguns cabelos como se esses pudessem alcançar-me os pulsos. Como toda agua que deve compor ciclos, como todo vento que deve varrer memórias, como toda fumaça procura pulmões, como toda ação espera – inquietamente – uma reação, como todo canhoto que é destro no cérebro. Posso escapar dessa fugindo à uma dose de razão, à uma endorfina, adrenalina, anfetamina ou ainda preencher palavras cruzadas. Distrair. Mas nada há de erguer o corpo debruçado na espera do que ainda pode ser. Ainda que meu fôlego já pareça cansado e que minha razão grite que eu olho para olhos e que estes olham para o mundo. Ainda que o novo seja apenas o que olhe. Me carregue de volta para as horas que estávamos próximos e que, desobedientes, passaram. Eu quero cansar meus braços e ouvir-te perguntar da minha ausência de medo. Me diga muito do que ainda tenho que absorver. Quando não me pertenço é assim. Me faça ver-te de alguma forma que eu não perca o sono. Antes, diga novamente que o sol nasceu só pra gente. Só para ter certeza.  

...i said it once before but it bears repeating ♪'

sábado, 18 de dezembro de 2010

Das vestes do acaso


E eu que pensei que dezembro não fosse render qualquer momento ao qual eu o pudesse dedicar palavras. Tal como pensei, por diversas vezes, que as noites não me renderiam mais que algumas risadas e drinks. Eu conto agora, na linha do tempo, redores da vida sempre mutante. Converso sobre coisas do passado, dedicando sentimentos diferentes ao que hoje é lembrança; o futuro deixei resguardado. Ele andou cumprindo os dizeres das runas. Amanhã é abstrato, distante e independe de ontem. Percorro a pele nos lençóis, forço as pálpebras, reclamo da luz - mesmo que voz ainda durma um pouco - e a cada gole do café, traço, involuntariamente, os planos até que eu volte à mesma cama. Somos fadados a isso. À dinastia de escrevermos o roteiro do nosso espetáculo cotidiano. Ainda que saibamos dos acidentes - e esses sempre acontecem. O não previsto mais que esperado. Uma certeza que abstraímos a cada primeiro bocejo do dia ou primeiro passo da porta de casa. Que acidentalmente rasgam os planos. Pode ser uma chamada num telefone, uma música ou um encontro. Acidentes assim. Bater os olhos acidentalmente em outros olhos. O encanto do não esperado. Se nos falta um botão de pause para os mais sublimes acidentes, bocejamos na próxima manhã e fazemos os mesmos inválidos planos. O velho vicio humano. Cíclico. Maníacos em ignorar o acaso (palavra que apenas veste o que se chama 'destino'). E é tão render-se a tudo isso. Confiar no caminho, fingindo para si não saber que amanhã o mesmo estará repleto de novos atalhos. Tudo que ilude é o que atraí olhos humanos.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Da garantia

"O sofrimento - por curioso que isso possa parecer-te - é o meio pelo qual existimos, porque é o único meio pelo qual nos tornamos conscientes da existência e a recordação do que sofremos no passado nos é necessária como uma garantia, a evidência da nossa continua identidade; entre mim e a memória da felicidade há um abismo não menos profundo que aquele que existe entre mim e a felicidade real."
(Oscar Wilde - Trecho de "De Profundis")

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A história da Carochinha


A gente inventa que um dia um dia vai ter tempo. Inventa que por enquanto somos tímidos ou orgulhosos. Quem sabe até ocupados demais. A gente inventa tempo e tempo não se inventa. Quem sabe outra hora iremos sentar e conversar. Mas só a hora que a gente inventar de inventar. Nos criamos pra só depois falar do gostar. A gente se olha e deixa pra lá. Um tanto quanto ressabiados de dizer o que sentimos. Meio afim de deixar pra lá. Ou de esperar que o assunto alguém, por acaso, lembre de puxar. A gente inventa que na próxima semana vai ter tempo. Que vai dizer quando resolver atender o telefone. A gente inventa que um dia – qualquer dia – a gente vai ter tempo de sentar e conversar.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Modo


Acabo de começar a me por em palavras. Prevejo não parar, não reler e não reter-me em rascunho velho e perdido. Aprendi a pouco o pulso. Não sei em qual esquina dobrei, ou que pedra tombei, e deixei o impulso ao chão. Era a ferramenta de fácil manuseio – apesar de um pouco pesada – que agora faria uso. Faria dela a maneira com que conduziria pés, vomitaria palavras, e perderia o escudo que achei de vestir. Faria-me transparente e mais parecido comigo mesmo. Por vezes pego-me canceriano numa cadeira a qual me colo, me acomodo. Atei-me a isso. E num confronto, de ringue espelho, questiono e questiono. Dou voltas no eixo. Tonto, e um pouco perplexo, decido desacreditar no ditado do vendedor de cigarros. Há de bater à porta outra oportunidade em que conduzirei você, com minhas sílabas, a escrever nessa história um pouco mais de desaforo e futuro. Quem sabe à pele mais de canção da madrugada – ou vestígios de irritação e ansiedade à ponta dos dedos. Não caio no otimismo, tão pouco decaio no pessimismo. Equilibro-me na linha tênue de guarda-chuva e nariz pintado. Queixo-me a paredes, e tateio lacunas durante o sono leve de todas as noites. Ei de, como disse, não reter-me no rascunho velho e perdido dos últimos dias.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

04:00 AM


Mal imaginam o esforço para suspender as pálpebras mantendo-as, pelo máximo de tempo possível, abertas. É como se corresse milhas de um perigo. Uma forma peculiar de não deixar-se absorver pelo inconsciente dos sonhos. Principalmente daquele último sonho. Um exorcismo diário, um antidoto forçado, um esforço que é não em vão. A garganta mais rígida que o comum, talvez, por manter-se inutilizada quando as palavras – agora engolidas – ali agonizavam por causar efeitos. A mente é um infinito estranho; dialoga consigo mesma e, o tempo inteiro, se contradiz. Algumas questões começam a ninar-me novamente. Quando desperto, adentro num cotidiano que de forma alguma me deixa livre de perceber as lacunas. Eu não sei porque fui obrigado a percorrer o pior caminho para alcançar essa linha de chegada. Há sempre maneiras menos drásticas, ou até, educadas. Mas, da próxima vez que tiver que manter as pálpebras abertas, seguirei a lógica imposta:

solto o ódio mato o amor ♪'

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Desliga a razão da tomada

.
"Você que se cuide
e pare de me dar respostas prontas
Que você tem problemas eu sei
são coisas da idade
por isso é que você me imita
desliga a razão da tomada
desfila por toda cidade antecipando o fim

{...}

Eu tenho tudo o que você precisa
...e mais um pouco
Nós somos iguais na alma e no corpo

Você que se cuide e pare de sair pela tangente
As drogas e os assuntos acabam sempre
nesse frente à frente

{…}

Todo humano é santo e pode amar
pode amar, sim!"

Cazuza

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Samba e Amor


Nessa noite em que também não escutei tuas notas – e eu começo a contar estas nos dedos – devaneio nos tons daquelas em que perdia contas. Esbarrando nos instrumentos e nas melodias, fazia-se essa lembrança em rascunhos de papel e lençóis. Colidimos na rima do 'ir embora', sem que o chocalho – ou seja lá o que for aquilo que emite som – cessasse. Mal podia eu saber à quantas letras essas palavras iam logo nos pertencer. E esbarrávamos olhares ao final de cada estrofe tão igual aos que dávamos quando explorávamos os limites do colchão. Era o estribilho o ponteiro e as carícias o despertador. Colo e canção no vagar da madrugada. Empurramos os planos da manhã para a tarde e o 'laiá, laiá' para o refrão. Não sei se preguiçoso ou se covarde.  

...eu faço samba e amor a noite inteira ♪'

sábado, 6 de novembro de 2010

Tão e quanto


Venceram-se aqui alguns prazos que faziam do abstrato um produto de minhas prateleiras. Ainda que ande negligente com suas especificações ou que me faça sentar e desviar minha concentração para os seus rótulos. Cumpro teu modo de preparado a risca e me pego fora das minhas antigas receitas. Invertido, coisificado. Ah, também um pouco tentado com oito dígitos decorados. Hora dessas me falam das aguas da chuva que quando passa se tem que secar, e todas bobagens que vem em letras minusculas e verticais nas laterais. Somos todos míopes. Tão e - não quero saber por - quanto. Peço não definhar nas tuas costas e nem que tua pele canse meus lábios. Talvez seja amanhã, no próximo diálogo bobo,ou talvez perca as contas. A mente nem dá muitas voltas e marca a objetiva 'hoje à noite'. Esvaziar-te e degustar-te. E esqueço que tenho que saber à quantas anda amanhã de manhã.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Pronome Possessivo


Quebrou recordes, sussurrou em saudade canção de ninar para que logo dormisse e pudesse sonhar, se pôs em cheiro na camisa que ficou enrolada perto do travesseiro para não demorar. Fez um diferente despertar da manhã, inebriar da tarde e sussurros no pé da noite. Passos largos, acelerados, como um pulsar que não se pode controlar. Fez-se assim: acomodando a bagagem, preenchendo o ar com interrogações em passeios sutis com o olhar, deixando todo o resto a flutuar no redor. Faz da pele, casa; da voz, segurança; do tempo, divindade.
Sentimento intravenoso, roxo na pele, sabor à pele - e estamos nos ilhando. Imersos nesse encontro.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Nove


Um pouco inebriado e entorpecido. Me coloco aqui em palavras porque resisto um pouco ao descanso dos lençóis. É porque eu já não sabia por onde andava. Tinha fechado um pouco os olhos, e, sendo ninado pelo desconforto, me reservado como o que já não se podia ver de pupilas. E eu já não sei se era previsão ou ironia do destino, quiça presente do acaso, mas distrai meu olhos pondo-os bem abertos. Os músculos da face respondiam por si só – a quantas andavam essa sensação? Pior, e saboroso, é essa agonia por amanhã. Confesso não saber por quanto, porque ou se essa xícara de café cortará. Mas continuo com jus às minhas juras. Pago para ver.

sábado, 23 de outubro de 2010

Tem o fogo do juízo final

Em 16/09/2010

A noite é fria e coberta com o disco da maysa, com uma xícara vazia, fumaça e brisa. A pele está distante da batida do som de sexta a noite e de alguns corações. O tato está imerso nas primeiras brumas da madrugada. E ela, a pele, um tanto marcada, um tanto arrepiada, pouco hidratada. A mente, em caminhos sinuosos nas lembranças, dá esse aspecto ouriçado nela toda vez que encontra uma composição com outras peles. Mas é o peito que aperta, porque disso ele não vive apenas. Daí passa por baixo da pele um pulsar mais forte à tudo que me lembra meus segundos de eternidade. Escreveu-se nas formas que dela se fez 'posso brincar de eternidade agora sem culpa nenhuma'. Como ela se envolve e abraça, agarra e o tato não basta. Faz-se pouco sutil, porque nela reflete-se alguns sétimos e oitavos sentidos. Ah! As peles onipresentes em cicatrizes nessa agora envolta em casaco desbotado. Das vezes que se pode adormecer e transcende-la para o nunca. É um todo, que ainda não se compara com recordações em visões ainda que estivesse com olhos fechados. Sinto-a clareando a noite, em cada dobra e pelo. É como se ali morasse pedaços de quem ela se abrigou da solidão. Não, não é casca. É receptiva, sensível e pouco vulgar. É essa demora que lhe retira brilho. É essa nota da canção que a faz suar. Gotas a traceja-la. Mas e o frio? Enfim, gotas que desprendem de ônus de algumas sensações e sentimentos. Sim, há sentimentos em pele. E nela tudo faz-se transparecer. Tudo são só esses centímetros cúbicos que andam juntando-se à demais. Anda coletando aromas alheios e misturando suor por aí. Como se não tivesse quem a guie. Mas tem. Tem músculo pulsante, cansado de não palpitar. Viciado no batuque e em mandar olhos lacrimejarem. Ele anda bom nisso de ter vida própria e comandar. Mas é ela, pele, que recepciona futuro em virtudes e marcas em vícios. Faz corar, transparecer, sentir. É da que vos falo que continua a toda pra se emancipar. Que quer fazer de todo resto esquecer. Quer se dissociar. Anda a toda com desejo. Os gosta de realizar. Quer largar o pulso que teima em não querer cessar.  


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O texto que você pediu



Volta e meia reatando o que nunca existiu. Vazio grupal. Ainda que corra agua aos corpos e que se unam às gotas de suor. Suas mentiras não são as mais gostosas. Perco seu olhar na fumaça e me concentro no que pode me fazer perder o sentido. Perco e volto para um outro banho, porque arranco noite após noite a sensação vulgar gratuita que nunca lhe ensinaram a suprir. Por vezes esqueço seu nome e suas dicas falidas de cabelo. Tens volúpia e fôlego, sou reu confesso. Percorro e decoro toda pele mas perco-me no caminho de volta pela sala. Suei para sustentar onze minutos de diálogo mais que qualquer gozo múltiplo. Não falei mais que seis ou sete palavras. Há o proveito, quente e forte, mas se este é o único – da próxima vez – ao menos faça direito.


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Indomável


O caminho que percorre todos dias, em algum momento, passa a se parecer com nada. As pedras passam a ser nada, as flores e a calçada. É preciso que ateei chama ou que inunde. Tome um outro percusso. Ainda que mais longo. Abstrair o velho atalho que te prendeu no tempo ao invés de poupa-lo. Ainda que na última noite tenha se arrependido de dos trajetos que te fez não reconhecer-se. Ou que o barulho venha a cessar sua calma. Necessidade consciente de enxergar o novo. Por mais que visão possa não ser a dos desejos mirabolantes da insônia. É lidar consigo na linha que beira o caos e a paz. Deixar-se mover pelos ponteiros no lugar de conta-los. Substituir a pacificidade pelos limites.
Ao chegar em casa, encara-te no espelho. O que fazes com face é reflexo de que? Vem carregado nos poros, na fotografia na carteira e nas velhas canções o que sobrou de si. Como quem adora totens. Ajoelha para si mas cansa. Rompe a imagem. Está aí nova forma. Contornos mais bem talhados e sentimentos lapidados. É mudança em hora limite. Desconhecer-se e fazer-se novo.
Ao cair da noite, depara-te com os pensamentos. Estes já não podem ser atados pois não tem o cansaço do físico. Então, entrega-te. Tudo que jurou não fazer, lugar que jamais pensou em ir, pele que repetiu feito mantra para não percorrer, e noites dessas... coisas que contradisse e não sabe bem porque. É que és a própria aberração. Medo do próprio medo. Diferença. Estranho corpo e alma. Desconectado e sem explicação. Resultado de permitir-se ao pensamento sem amarra.

sábado, 9 de outubro de 2010

Da Obra Final


Posto aqui, entre palavras que resumem – por vezes até esticam – qualquer coisa passada e velha na linha do tempo. Dedos a tocar letras e corpo imerso no branco. Algo acende e apaga para lembrar-me de preencher essa cor e perder-me ainda mais nessas palavras que no próximo segundo estarão velhas e inadequadas. Como um transtorno o faço. Confesso que, por vezes, vem em mente desejo subto e involuntário de imaginar devaneios de algum futuro. Outras, de apagar palavras como se assim pudesse eximir também seus significados. Tento, na verdade, dialogar com o presente mas não passa de um monólogo. De algo sobre feitos sem efeito algum. Movimento repetido de fluxo criativo que mais se aproxima de 'tempos modernos' – até nas cores. Algo que não alimenta. Mas palavras proferidas esperam por outras, ainda que cuspidas. Não sou para ser pego em entrelinhas. Quem sabe o façam, como quando resgato passados em título, texto e comentário. Contradigo nas linhas em fonte e frases, e digo em linha de tempo. Me pego criativo, me encontro repetitivo e me perco indecifrável. Assim que me limito escrevo.

Do Rascunho


Ensaiai dizeres. Fiz me verso. Abusei de limitar sentimentos colocando-os em poesia. Fiz dos tremores do corpo instrumento e da fala, canção. Eu não queria, na prosa, pronunciar amor. O tempo é eterno play, barulho. Não dá para retroceder. Tentei, por vezes, fazer-me verso. Terminei soneto. Tentei apertar um mute, ou usar borracha no rascunho. Não há obra final. Afinal agora movo-me como me traçam e ajo a depender dos botões pressionados.  

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Balada do Cárcere Privado

Livremente inspirado em Balada do Cárcere de Reading, Oscar Wilde.





Há barulho ali.
E silabas tônicas ultrapassando latidos e sopro de vento.
Há um embaraço, um desconforto.
Me tiro, aqui me lanço. Refugio de canceriano.
Cheiro de aerosol, desabafos contidos, grilos.
Eu vou procurar um apoio pros pés.

* * *

Silêncio no lado de fora da porta.
Estrondo de poucas palavras.
Agonia do tipo que faz mala.
O cheiro de café não distrai.
Os planos são falhos.
Ainda assim o tempo rasteja
O travesseiro fica - a cada insônia - mais fino.

* * *

Ouvi meu nome feito ladrar.
Eu não caibo na passagem de ar.
Ensaio despedida e conto moedas.
Vago na mente música que distraia.
Não caibo aqui.

* * *

Estocaram minha liberdade.
Empoeirada na dispensa.
Raros domingos de sol.
Meu objetivo em folhas de papel
Não saio do lugar.
Guardado, perdido e validado.
Eu peço ver tudo pelos ares.
Eu não sou salvador,
Sou egoísta, humano.
Quero ladrar por ruas de pedra.
Cantarolar alto.
Perder por aí toalha molhada.
Quero fome e um pouco de miséria.
Feito moeda pra liberdade comprar.
Vou rasgar meus planos,
não consigo me concentrar.

* * *

Mancha na veste de 100 pratas.
Faz o melhor dos dias parecerem bando de sol do carcere.
As celas me dão mofo.
Mais parece liberdade condicional.
Tenho horas e não tenho chaves.
Satisfações sem satisfação
Falta sal e um pouco de ar.

* * *

Devo ter cara de orgia ou de tóxicos.
Me colocaram no manicômio
Tem mulher e malandro de Chico
E latidos de bípede.
Eu não quero adjetivo de maduro
em conversa de bêbados.
Quero o crocodilo do Peter Pan.
Desejo de ser mimado, infantil e delituoso.
Errado até na mão que escrevo.
Eu sou ofendido na desculpa da verba curta.
Olhos em cima como em viciado na reabilitação.
Eu quero vomitar o espirito nessa virose.
Vão me injetar soro num hospital bem longe daqui.
Experiência é o nome que damos aos nossos erros.
Diz Wilde.
Vão apontar se andar de viés no samba.
Ainda que seja só 3 da manhã e eu esteja limpo.
Vão condenar como se faz na corte,
e não se faz com pessoas comuns.
Devem ver seus anos 70 no meu penteado.
Acham que ajo como seus passados imundos.
Só o blues é o mesmo.
Janis vai embalar a nostalgia.
Na solidão grupal.

* * *

Agua cortante, caindo em cubos.
Tá mais para câmara de gás.
E que se dane a cor dos olhos e do cabelo.
O evitável só faz a temperatura cair ainda mais.
Por dentro devo estar ainda mais frio.
A cada banho que passa.
Eu queria fazer aqueles riscos de cela
no ladrilho do banheiro.

* * *

Vou estourar a verba.
Por que já não dá pra dançar.
É o que sobra do que gosto de fazer.
Vou fugir da massa pálida que me alimenta.
Vou torcer pra óleo velho entupir a veia.
Vou jogar pro cachorro a carne viva do prato.
Ainda aprendo a latir.

* * *

Tem mais grades e sistema que planos do Lombroso.
Celas impostas em mentiras e um pouco de drama.
O frio que aqui faz anda impedindo-me de traçar planos de fuga.
Não há labuta nem banho de sol que amenize o cárcere.
Nem há da minha parte paciência para isso.
'Não vou me adaptar'.
Resisto feito pedra bruta à lapidação.
Ando a cantar 'canceriano sem lar'.
Daqui a sensação de que sou invejado.
Em meu uniforme listrado.
Posso ser branco, sentado e calmo em frente a livros.
Posso ser breu, em som alto e risos.
Continuo fadado a achar o mundo imenso.
Grande e que cabe na palma da minha mão.
Não podem ser eu e minhas listras,
forçam-me a ser suas mono-cores e rancores.

* * *

Cortei as raízes do jardim em meu banho de sol.
Já não sei bem o que faço.
Estou rodeado de baobás.
Armas pra que eu atire pra todos os lados.
Não podem me fazer desaprender a sorrir.
Não quero saber da vida na TV.
Quero o andar de viés,
experimentar salivas mais ácidas que o café dormido.
Quero polpar meus únicos vinte anos
de tantas paredes.
Dessa péssima dose diária de mau humor.

* * *

Rebelião.
Caiu por terra as falas falsas.
Tudo exposto e claro. Ainda que esteja escuro.
Eu aqui. Mantenho aquilo lá. E é isso.
E aí de mim se contar.
Abuso do direito de permanecer em silêncio.
Engolir à seco. Sem pestanejar.
Chantagem mesmo. E quem vai se sacrificar?
Pra quem? Por qual janela? Túnel? E pra onde?
A lua gigante não protagonizou...
E o mundo é um pouco mais porco e sujo
que se podia imaginar.
Parede e sentença.
Sufoca o calar.
Já tracei na pele. Rota.
Vou fazer a mala e pagar pra ver.
Quando se faz, se ensina.
Aprendi o ladrar.


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Gole


Pego em típicas conversas no fim da garrafa. Perdi-me um pouco em efeito do tinto e na lua que tem se exibido nos últimos dias. As preocupações tinto suave das safras quando recente. Havia fermentado à pouco. Imaginava, para agora, outros rótulos. Antes pareciam metas, ou destino. Agora definem-se sonhos – no sentido mais abstrato e bobo da palavra. A qual adega fui reserva-me? Acreditava em algo maior que o agora. Melhor e em tom mais forte. Por vezes, sinto-me traidor de mim naquela safra. Outras... não, não. Hipótese inexistente. Pisado, feito uva, para ser um belo tinto seco. Perdi o doce da fruta. Ganhei o efeito ébrio e inconseqüente. Confesso: um pouco do que sempre quis. Estava como os melhores e que resistiriam por mais tempo nas cartas. Mas derramei-me nas voltas de modernas taças. Ganhei formas estranhas e fui obrigado a adaptar-me à estas. Levado à alguns lábios que somaram em mim alguns sabores. Doces e amargos. Outras taças no entanto, independente de lábios e degustação, me tornaram um tinto suave barato – do tipo que não se especifica safra, sempre nova, barata, adocicada e um tanto enjoativa. Ouve os bons paladares. Fui bem degustado. E também cuspido por profissionais. Mais seco. Quase vinagre em tantas mudanças. Irreconhecível sabor à descrição do rotulo. E como definir-me agora?

Quero criar o meu próprio pecado, quero morrer do meu próprio veneno.



sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Amores Gris


Divagar. Sobre pôr os olhos no que resta de luz da noite nublada. Procura insana por sono. Mais parece grito de socorro. É mais força involuntária para refugiar-se do possível e desaparecido sono. Ah, os clarões que vagam em mente. Insensata busca por não cessar-se e sucumbir-se.

De vagar. Flutuar mente ao passo que os pés balançam involuntários em cama elástica. A esquecer-se do trocar de pés pelas mãos. Distração em doses homeopáticas. Exaustão, por vezes. Lembrete amarrado ao dedo: 'respirar' (era para não desejar mais). De vez em quando faz bem.

Devagar. Aprisionar o físico no correr solto da força do pensamento. Libertar – a ferro, fogo e fumaça - algumas amarras. Andar algumas ruas, despressurizar em léguas. Andar afim de completar o ciclo. E fé que esse exista. Anda, por vezes, a mostrar-se. Um dia desses. Qualquer dia desses. Recriar.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Da Primavera


Cultivo una rosa blaca
en Junio como en Enero
para el amigo sincero
que me dá su mano franca.
Y para el cruel que me arranca
el corazón con que vivo
cardo ni ortiga cultivo,
cultivo una rosa branca.


José Martí

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Segundo Plano

07/09/2010
Talvez eu tenha depositado minha atenção na última xícara de café. Tal como devo ter feito com os últimos risos, noites, copos e corpos. Estava a procura do que me desvie e me insira numa ilusão repleta de prazos de validade. Mas sequei a última gota. Tocou a última nota do disco da Riva. Surgiu-me agora esse bloco notas. Esse encontro com o que me distraio para não ver. Se trata de um marasmo, uma rotina, um emaranhado. Circula em segundo plano na minha mente o vácuo que pedaços de mim tem deixado. Me negava essa sinceridade que a falta de ocupação fez resplandecer. Um pouco de culpa por chegado até essa última gota sem arrependimentos. Um pedaço de dor por ter rompido elos. Muito de saco cheio por sentir um tanto quanto distante a liberdade em chão de pedra que já pude ter. Me falta esses blocos. Essa cor para o caderno 'colour me free' à R$1,99 na banca. Aquele sonho que a gente costuma sonhar acordado. Agora surgem pingos que não de café. Em grande quantidade e caem do céu escuro demais para a hora em que escrevo. Respinga aqui e já posso me distrair novamente. Posso deixar de falar da corrente partida, da cama vazia, das páginas em branco, dos e-mails sem resposta, do zumzum e mé. Transporto minha atenção pra sinfonia de instrumentos em folha, gotas e vento. Essa sinfonia improvisada, invejada e nostálgica. Para o pior dos silêncios que é o do ouvido que não quer escutar.

domingo, 19 de setembro de 2010

Perfeitamente

Entra e sai
e volta e vem e vai
Surge e some
agora não quer mais.
Eu jurei parar,
cortar. Eu sei que amanhã
vai embora e eu ficarei pra trás.
Não diz nada. Eu digo mesmo assim,
se contém e eu já não caibo em mim.
Eu jurei, eu sei, perfeitamente que é o mal
que me faço e faço até o fim.

eu que to sem chão no alto da gangorra,
eu jurei mas sei que já não juro nada,
eu já não tenho quem me socorra,
já não é minha a minha palavra.
Eu me rendo outra vez e o declaro
outra vez você me amou por um segundo
agora o céu vai ficando claro
você me esquece e eu me afundo
hummnmnm...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Amor em demanda 2


Estão todos no ar, ao redor. Estranhamente com olhares de percepção. Eu posso sair por essas curvas, devastando cinco sentidos, ou posso sentar aqui e esperar a poeira baixar. Posso rasgar esse tormento, procurar pelo sentido sexto, de quebra, devastar-me. As sensações caminham descoreografadamente pela minha pele. Há algo que me compõe nessa multidão. Resultado de uma soma de tantos corações. Visão em túnel. Susto e espreguiçar. Erguer as pálpebras e a coragem. Livrar-se dos cobertores e da agonia. Resta o dia inteiro.

Chão frio. Luz à cegar. Ouço o vento e automóveis. Cessam. Ouço vozes que estão em mim.  

domingo, 12 de setembro de 2010

Bocejo


O desejo é só de permanecer. Assim, ó. Os braços um pouco mais pra cá. Agora deixe-me cobrir os pés. Pronto. Inerte, vegetativo. Assim pelo resto do ano. Se não der, só esse mês. Me contento. Tá, eu tenho um pouco de fome, mas não tem outra coisa que queira saborear. Será que a sede tá vindo? Já vi que vou ter que levantar. Não existem mesmo esses feitiços de conto, né!? Espera, existem sim. Começam na vertical. Eu tenho oxigênio e lençol – pra que o corpo quer alimento? Eu tenho preguiça. Eu não tenho chão. Eu sou repleto de vontades. Agora eu quero nada. Quero um 'pause'. Um sono, um sonho. Desbravando a textura da pele, friccionando com o colchão. Inebriado. Pesado para o mundo tal como as pálpebras para os olhos. Exausto do descanso. Até o próximo primeiro segundo. Quem é que está ligando agora?  

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

RE: Spam


Enviada:terça-feira, 7 de setembro de 2010 1:00:23

Eu não vou ser tão cara-de-pau e te pedir desculpas pela demora da resposta desse e-mail mais de um ano depois. Confesso apenas, que só o vi agora, e li horas depois. Com mais coragem. Tão pouco me aprofundarei em sentimentos da época; prometi a mim mesmo tomar cautela pra não interferir no seu tempo presente. Por sinal, nem sei se você quer que eu responda isso agora. Sinceramente, acho que não. Mas eu não ficaria bem comigo mesmo se não o fizesse. Nem me chamarei de egoísta agora. 

Serei redundante se falar que por diversas vezes avisei como sou? Que sumiria? Que não gostava nem gosto de porquês? Queria deixar claro que foi curto, proibido e maravilhoso esse nosso tempo. Que nunca fui tão meloso, atencioso, respeitado, amado, iludido e um pouco aprisionado. Eu tenho gosto por quem já percorreu alguns anos na minha frente, mas isso não interfere naqueles meus 19 anos. Eu queria esvaziar toda a minha imaturidade, mas não tirar os pés do chão. Flutuamos demais, e nos perdemos em experiência, idades, distâncias e tudo isso que usamos de desculpas para disfarçarmos erros. 

Não sei se vou cortar com a verdade, mas cansei de prolonga-la. Eu cansei de não ser suficiente. Enchi a paciência das 30 ligações diárias serem menos que as 31 do dia anterior. Não me senti na fase de encher meus ouvidos com metáforas de torres e caixas todos os dias de manhã. Me senti cobrado, cobrado e cobrado. Não te disse nada. Apenas sumi para que se o arrependimento batesse eu pudesse fazer alguma coisa que - pra ser sincero - eu nunca planejei o quê.

Eu vou quebrar muito minha cara nos meus relacionamentos, porque espero demais dos outros. Pude, com você, me sentir do outro lado da situação. Não me leve a mau. Não foi de propósito. Minhas palavras eram sim verdadeiras. Meus sentimentos, minhas juras, meus versos, meus sorrisos e meus gozos. 

Por vezes me senti seu troféu, sua vingança pra ex-amores, um número na lista. Terceiro. Ou sei lá que número eu era. Por outras me sentia completo, amado, querido, repleto ... Eram muitos "sentir" pra nossas poucas semanas, pros meus 19 anos, pra minha personalidade.

Eu tô bem. Mas estava melhor com você. Eu tô com culpa. Mas quero continuar com minha solidão e minha culpa. Passei por algumas coisas desagradáveis nesse ano e agora posso ver que não deveria ter crucificado quem me feriu algumas vezes. E não te julgo se quiseres fazer isso comigo. Pode me condenar. Quem sabe um dia tenha esse clarão de respostas que agora tenho. 

Eu não sou o tipo de cara de amores nem de orgias. Eu transito entre dois lados. Ainda tenho tempo. Temos tempo. Temos essa ligação de céu em noite de lua linda. Queria te dizer que fui parar num show na praia, numa cidade que não era a minha e nem a sua e, sabia que você estava lá; pensei que deveria estar perto do mar... e depois você me confirmou que estava. Eu não pude entender até hoje. Nunca fui dessas coisas pouco práticas. Conto isso porque não posso negar nossa ligação em fios invisíveis.  Não posso dizer que são relacionamentos e que temos que aprender com isso e em alguns dias passar pro próximo. Somos mais profundos que datas de validade em rotulo de vinhos com morango, não acha!?

Tenho que parar de ser frio e te falar da segurança, das cores, do cheiro bom, da pele, do prazer, dos sinos, do embalo e de tudo mais que você me trouxe durante nosso tempo. Tempo que me transporto por esses instantes em que te escrevo sem parar os dedos nesse teclado. Assim, cuspido. Não dá pra esperar por mais um minuto. Se pudesse experimentaria mais um de nossos bons dias pra ver se tomei a decisão certa. Mas não brincaria com coisa assim. Não me vejo mais na hora do recreio e tão inconseqüente. 

Ah! Não me pergunte o que sinto hoje. Porque eu não sei, de verdade. Já sentiu isso antes? Mas tão pouco quero saber. Aprendi algumas coisas nessa vida presente, e não vou remoer mais esse tipo coisa. Vamos partir.

Ainda quero sua felicidade como quero a minha. 
Só que não a mesma.

...não sei bem porque.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Spam

Tipo de coisa dobrada e não lida que você encontra tanto tempo depois e se transporta pra aquele tempo. E de que tempo estou falando agora? Este em que me perco, me culpo, me livro. Que estou imerso, submerso agora.. Mais dobrado e esquecido que e-mails que não foram lidos por se confundirem em um balaio de spams.


Enviada:segunda-feira, 24 de agosto de 2009 16:58:01




meu homem lindo,

tenho meus desejos de tê-lo perto, e acabo quase estragando o 'nós'... é que você é tão lindo e interessante e especial e inteligente e tudo mais, que fico ciumes de te ver sempre tão belo longe de mim... de não poder gritar do outro lado nosso amor, porque ainda é cedo pra o que outros poderão sentir!
Não o coloquei em um pedestal alto nem baixo de mais, por não gostar de pedestal, te coloquei em meu caminho como meus passos... quando olhava em volto, o único desejo que tinha era de encontra-lo, de senti-lo... ou ao menos um torpedo, telefonema... saber que você ainda pensa e lembra de mim, mas não vinham! então suas palavras eram tão belas e perfeitas, que tive medo. medo de não precisar eu estar ali, medo de você ser mais feliz quando fico dentro dos silêncios! Tive medo de você não mais desejar que esse alguém que te faz sofrer e feliz ser eu!
Você além de sumido andava tão distante, e quando o procurei parecia que todos tinham noticias suas,sua atenção... então percebi que estava bem! mas ambiguamente sentir uma dor por não me perceber ali!
Desculpas mesmo, se eu sempre falo coisas pesadas... se sou meio melodrama mexicano!
(lembrando de um caso de Kalar) eu não irei me matar, nem odia-lo nem te desejo mal algum!
quero livre e sonho que sejas livre por vontade comigo!
Amo muito você!
não posso encontrar ninguem melhor nem pior que você para amar ou sonhar {...} sendo você o melhor e o pior de mim: meu infinito particular!

{…}

com você ao meu lado, com seus olhos ao alcance dos meus é como se o mundo tivesse um brilho próprio e isso me faz perceber de verdade quem sou... mas quando estás longe dispensando esse sorriso lindo aos outros do mundo, vem a insegurança de alguem tira-lo de mim... pois não sei se merece tanto! mas sei que quero você comigo! 
Te amo meu lindo
e por favor... ainda que as palavras lhe faltem... seja sincero e diga pelo menos isso mas não me condene ao frio sombrio do silêncio por tanto tempo! 
- e perdão por lhe meter medo... a culpa não é minha completamente" sou é responsavel fundamental é bem verdade! mas se você me der a mão e me ensinar podemos construir lindos ecossistemas juntos!
"aonde está você agora?" - pergunta literal e metafórica: preciso saber aonde está você no sentido de saber onde devo ir!
Se devo ir pra longe
se devo esperar você chegar
se devo desistir (o que não faria, mas poderia tentar fingir)
se devo ir te buscar 
se devo insistir
onde está você agora?

{...}

brinquei de caminhar e sentir o vento... e perguntei ao sorriso no céu o que devo fazer pra te encontrar mais perto!

sábado, 4 de setembro de 2010

Que me invada

Ando com texto pronto e percorro a vida alheia com conselhos práticos. Abri um vinho com as últimas verbas - e olha que hoje é dia 3. Giro cálice e procuro desenhos em fumaça. Eu balanço os pés, conto telhas, paro livros parados no meio, sussurro palavras e estalo dedos. Já não sei porque não coloco muito açúcar no café, nem porque pego no sono tão rápido. Tive vontades estranhas, como ver TV e comer chocolate. Eu sonhei que estava debruçado em peitos e acordei mais feliz em ver o travesseiro. Eu seleciono músicas, amendoins e amores. Eu tenho em mim estes gestos de espera, essa ansiedade por nada e esse monte de respostas sem perguntas. Ando me achando normal cada vez que contabilizo algumas loucuras e paranóias. Já não vivo o agora pensando em contar depois. Não ligo para os meus descartes, devaneios, alucinações. Eu quero prolongar o gosto do beijo, mas por vezes preciso parar pra respirar. Eu quero o longo de toda a noite, mas logo vou ter que acordar. Eu quero mais do que muito. Satisfação. Eu já não quero nada. Mudo de opinião tão depressa. Logo volto atrás. Eu fecho os olhos, me volta outros olhos. Luto para não me amargar, para não lembrar e para relevar. Danço com mãos em outras peles e é só pra me treinar. Ainda balanço o mesmo pé; prossigo no mesmo parágrafo e espero pelo titulo. Viciando em cada verso que o amor veio trovar.
.

E nessa Saga venho com pedras e brasa
Venho com força, mas sem nunca me esquecer
Que era fácil se perder por entre sonhos
E deixar o coração sangrando até enlouquecer






domingo, 29 de agosto de 2010

A gosto / Agosto




... nem passar agosto esperando setembro
                               - se bem me lembro!

Caminhei vulgarmente os olhos por cima dos quadrados que cercam pequenos números num calendário em uma parede. Franzi um pouco a testa irritado porque, como concordaria Saint-Exupéry, números limitam. E não há nada tão palpável, objetivo ou quadrado nessa parede de lembranças. Vaguei, como há muito tenho feito. Tal mosaico numérico borrou-se formando - com maestria - o contorno de alguns drinks, os laços de risadas, os entre-laços de beijos, tom de olhos, embalo de músicas, guerras e guerras por paz. Uma dose dupla e sem gelo. Forte. Lenta. Esse estranho caminhar das últimas semanas. Como quem responde 'com emoção' antes de por o pé na tábua. É se sentir um pouco tonto quando parar para concentrar-se em todo ar que expira. Embevecer-se com o que inspira. Contornar-se e não reconhecer-se. Há de ser memorável.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Imprudência e Malefício

Las miradas de tus ojos son tan sutiles
que penetran en el alma de quien los mire
y como soles irresistibles son tus desdeños
que no puede uno mirarse, mirarse en ellos.
.
Y como sabes que tu mirada tiene le hechizo
mira com imprudencia y maleficio.
No me mires a los ojos porque no quiero
que tu mirar penetrante me deje ciego.
(Marina De La Riva)