segunda-feira, 28 de junho de 2010

Viva a Chama

Deixar-se levar como a chama de uma fogueira que se consome ao vento que soprar. Aproveitar, dividir-se em brasa, somar-se à artifícios, subir às alturas e explodir. [Dividir. Repartir. Espalhar]Queimar-se à um vento frio, quente, ateu, ou teu. Viver de brisa, aproveitar todo vermelho antes da cinza. E preparar o renascer se um dia ela chegar. 
 tigre, tigre. viva a chama. quão imortal sua mão e olhos. poderia acabar com tão perfeita simetria? (Oscar Wilde)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Volver III

E mesmo que tudo tenha sido deixado no mesmo lugar - as trilhas musicais empilhadas, os copos com últimos e esquecidos goles, o lençol amassado e a cinza do incenso caída - ao voltar para seu velho cenário o personagem notará, na flor de sua pele, a diferença de cada átomo e nostalgia da opacidade que a cor ambiente tomou. Tempo. Há algo que onipotentemente toma tudo e tira o significado de 'igual' que escapava-lhe pela boca. Tempo, tempo. Há de fazer com que o segundo atrás seja parte integrante do passado e não pode ser vendido separadamente. Tempo, tempo... ou tudo que digo é repleto de mentiras e o que muda são as bagagens à mão do velho personagem e seu olhar rodeado de algumas rugas!? Completará sua viagem personagem e ainda não saberá. Ficastes com a dúvida e, por vezes, optará por uma resposta dupla. Serás tolo até sentar em cima de suas malas, juntar o chapéu ao peito e conversar com Tempo. Verás que está morto nos minutos atrás e que não existe nos segundos seguintes. Serás agora, em pele, dúvida, carne, osso e ócio.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Acredite se entender



É o gosto da totalidade acompanhado do vento no rosto, do amargo da última bebida, da singularidade de uma sexta à noite. Falo de mesmos sentimentos – acontecimentos - que na soma resultam sempre num sentimento variante, inédito. Alquimia de ingredientes para o mesmo paladar. Nostalgia de ciclo fechando-se tão perto de um desfecho de livro de memórias de canto de prateleira. Fazer-se entender é tarefa impossível que os mais ininterpretáveis morreram tentando e tornando-se ídolos emoldurados  numa parede rebocada de lembranças. Falo de últimas paixões queimadas, de má interpretações frias, intrigas ardentes, doces laços, saliva picante e de algum denominador [in]comum. Vontades de permanecer, coragens de partir, desejos de perpetuar, saudosismos do futuro. Já pisando em gemas e, com  essa mistura na ponta da língua, visto-me com a estampa da minha própria cara e armo-me dos últimos meses ainda que seja pra continuar aonde estou agora. 


Leve na lembrança ou Cor de Mancha-de-olhos-fechados 2


Não conte essa história com o que não aconteceu. Olhos moles. Carregue nas suas palavras passado, porque daqui o futuro de sonho acordado sopra como um vento com distância do que vemos em noticiário. Uva fermentada com morango, comme si de rien n'était, varanda amarela, apanhador de sonhos pendurado a filtrar aquela cor manchada de olhos fechados. Não existe saudade do futuro fora de poemas, olhos moles de interpretações ingenuas. Leve na lembrança.

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