quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Modo


Acabo de começar a me por em palavras. Prevejo não parar, não reler e não reter-me em rascunho velho e perdido. Aprendi a pouco o pulso. Não sei em qual esquina dobrei, ou que pedra tombei, e deixei o impulso ao chão. Era a ferramenta de fácil manuseio – apesar de um pouco pesada – que agora faria uso. Faria dela a maneira com que conduziria pés, vomitaria palavras, e perderia o escudo que achei de vestir. Faria-me transparente e mais parecido comigo mesmo. Por vezes pego-me canceriano numa cadeira a qual me colo, me acomodo. Atei-me a isso. E num confronto, de ringue espelho, questiono e questiono. Dou voltas no eixo. Tonto, e um pouco perplexo, decido desacreditar no ditado do vendedor de cigarros. Há de bater à porta outra oportunidade em que conduzirei você, com minhas sílabas, a escrever nessa história um pouco mais de desaforo e futuro. Quem sabe à pele mais de canção da madrugada – ou vestígios de irritação e ansiedade à ponta dos dedos. Não caio no otimismo, tão pouco decaio no pessimismo. Equilibro-me na linha tênue de guarda-chuva e nariz pintado. Queixo-me a paredes, e tateio lacunas durante o sono leve de todas as noites. Ei de, como disse, não reter-me no rascunho velho e perdido dos últimos dias.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

04:00 AM


Mal imaginam o esforço para suspender as pálpebras mantendo-as, pelo máximo de tempo possível, abertas. É como se corresse milhas de um perigo. Uma forma peculiar de não deixar-se absorver pelo inconsciente dos sonhos. Principalmente daquele último sonho. Um exorcismo diário, um antidoto forçado, um esforço que é não em vão. A garganta mais rígida que o comum, talvez, por manter-se inutilizada quando as palavras – agora engolidas – ali agonizavam por causar efeitos. A mente é um infinito estranho; dialoga consigo mesma e, o tempo inteiro, se contradiz. Algumas questões começam a ninar-me novamente. Quando desperto, adentro num cotidiano que de forma alguma me deixa livre de perceber as lacunas. Eu não sei porque fui obrigado a percorrer o pior caminho para alcançar essa linha de chegada. Há sempre maneiras menos drásticas, ou até, educadas. Mas, da próxima vez que tiver que manter as pálpebras abertas, seguirei a lógica imposta:

solto o ódio mato o amor ♪'

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Desliga a razão da tomada

.
"Você que se cuide
e pare de me dar respostas prontas
Que você tem problemas eu sei
são coisas da idade
por isso é que você me imita
desliga a razão da tomada
desfila por toda cidade antecipando o fim

{...}

Eu tenho tudo o que você precisa
...e mais um pouco
Nós somos iguais na alma e no corpo

Você que se cuide e pare de sair pela tangente
As drogas e os assuntos acabam sempre
nesse frente à frente

{…}

Todo humano é santo e pode amar
pode amar, sim!"

Cazuza

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Samba e Amor


Nessa noite em que também não escutei tuas notas – e eu começo a contar estas nos dedos – devaneio nos tons daquelas em que perdia contas. Esbarrando nos instrumentos e nas melodias, fazia-se essa lembrança em rascunhos de papel e lençóis. Colidimos na rima do 'ir embora', sem que o chocalho – ou seja lá o que for aquilo que emite som – cessasse. Mal podia eu saber à quantas letras essas palavras iam logo nos pertencer. E esbarrávamos olhares ao final de cada estrofe tão igual aos que dávamos quando explorávamos os limites do colchão. Era o estribilho o ponteiro e as carícias o despertador. Colo e canção no vagar da madrugada. Empurramos os planos da manhã para a tarde e o 'laiá, laiá' para o refrão. Não sei se preguiçoso ou se covarde.  

...eu faço samba e amor a noite inteira ♪'

sábado, 6 de novembro de 2010

Tão e quanto


Venceram-se aqui alguns prazos que faziam do abstrato um produto de minhas prateleiras. Ainda que ande negligente com suas especificações ou que me faça sentar e desviar minha concentração para os seus rótulos. Cumpro teu modo de preparado a risca e me pego fora das minhas antigas receitas. Invertido, coisificado. Ah, também um pouco tentado com oito dígitos decorados. Hora dessas me falam das aguas da chuva que quando passa se tem que secar, e todas bobagens que vem em letras minusculas e verticais nas laterais. Somos todos míopes. Tão e - não quero saber por - quanto. Peço não definhar nas tuas costas e nem que tua pele canse meus lábios. Talvez seja amanhã, no próximo diálogo bobo,ou talvez perca as contas. A mente nem dá muitas voltas e marca a objetiva 'hoje à noite'. Esvaziar-te e degustar-te. E esqueço que tenho que saber à quantas anda amanhã de manhã.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Pronome Possessivo


Quebrou recordes, sussurrou em saudade canção de ninar para que logo dormisse e pudesse sonhar, se pôs em cheiro na camisa que ficou enrolada perto do travesseiro para não demorar. Fez um diferente despertar da manhã, inebriar da tarde e sussurros no pé da noite. Passos largos, acelerados, como um pulsar que não se pode controlar. Fez-se assim: acomodando a bagagem, preenchendo o ar com interrogações em passeios sutis com o olhar, deixando todo o resto a flutuar no redor. Faz da pele, casa; da voz, segurança; do tempo, divindade.
Sentimento intravenoso, roxo na pele, sabor à pele - e estamos nos ilhando. Imersos nesse encontro.