quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Números


Na contagem do mundo novo, nas regras, calendários. Numa espera coletiva de datas melhores. Participo do embalo, de pés descalços, de tinhas em punho e listas. Deveres e quereres em tópicos. Promessas à entidade própria. Desvaneios ao contar estrelas, à contabilizar tudo que é meu. Aos meus direitos de dias cansativos, dias belos, dias de sol e tardes cizentas. Pisar no que me é chamado de futuro, com pilulas engasgadas ainda na garganta. Em espectros que me carregam no embalo caleidoscópio por essas areias. Registrando em mente, desde já, o filtro solar, o toque do despertador, a trilha que vai chegar, a que vou percorrer - meio sem lar. É blues que vai embalar. A cama feita, a mesa posta. Em postas meus sonhos. Numa energia mutua, ciclica, repetitiva e esperançosa. Tudo que é cuspido falado pra dentro, para depois por pra fora. Em contagem da vida em números. Em nada que de verdade nos valha. Em tudo de que ilusório nos agarramos. Em tudo que pode tornar-se real. Bem  melhor agora, mundo novo.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sua lei (Dori Caymmi Feelings)


É o amor outra vez
Veio sem me avisar

{...}
Quando o amor se hospedou
Todo o mal se desfêz
Toda dor teve fim
Pois quem cuida de mim
É o amor outra vez

{...}
Mas agora que eu sei
Todo o bem que me fez
Vou seguir sua lei
No meu peito, meu rei
É o amor outra vez ♪

É o amor que dá vida ao meu peito / Prá eu jamais ver o tempo passar / É o amor que dá paz ao meu leito / E me ensina a sonhar / Só o amor faz um bem tão bem feito / Que o destino não vai desmanchar / Só uma coisa no amor não tem jeito / É ter medo de amor

Sonhei


Não deu pra fugir. Impossivel evitar. Gesto invuntário da mente. Adormeci, saí de mim. Apaguei. Deitado, travesseiro extra entre os joelhos, um dos braços embaixo do outro travesseiro. Aquele cheiro distante. A mente pintando aqueles quadros movimentados de sempre. Onde eramos filme. Onde eramos drama. Completamos nossa tragetoria de risos, abraços, beijos e despedidas. Entendimentos. Havia um pouco de medo - já que tudo ali nos era muito. Os detalhes da bebida, da camisa, dos cabelos. A lingua leve. O gosto forte. Algumas brumas comuns a todos os sonhos no cenário. E a trilha. A nossa mais perfeita trilha. É, sonhei. E eu estava de olhos abertos.

... em ti já estava imerso

domingo, 27 de dezembro de 2009

De estimação.


Deixo que suba no sofá, sem ninguém saber. Acaricio teus pelos. Sou tua casa, tua comida, tua roupa lavada, estendida. Te vejo espriguiçar, te deixo me lamber. Ponho na cama. Levo pra passear. Mimo, estrago, enfeito. Te largo, te deixo virar latas. Deixo a janela aberta porque sei que você sabe o caminho de volta. Preparo os novos novelos. Cheiro panos se bater a saudade. Aqui é teu segundo lar. Teu pulo telhado. Único lugar de paredes sólidas onde não precisas se preocupar com a forma de render-se a preguiça e ao agito. Eu te passo um pente, um elogio. Leite no pires. Sobremesa. Dedos melados de nutella. Voz de criança mimada e misto de apelidos estranhos. Te canto uma música da Bruni. Falo de coisas que você já sabe, que você já viu e ainda sim me olhas com cara surpresa. Ainda falta te falar tanto, no sofá ou na varanda. Parta. E pule a janela. Mas lembre-se de não avisar.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Supremacia


A inspiração em ondas. Em movimento pulsante nos dedos. Em tintas e papel. Involuntariamente, obrigatoriamente. Feito o resultado do enjoo. Feito tosse seca. Respiração em alpha. Batimentos do coração de um futuro suicida qualquer. Queda d'agua. A inspiração bate a minha porta de provocação, porque arranca a minhas paredes e diz isso ser o mais fraco de seus truques. Colore minha visão, apaga todas as minhas notas mentais. Me zera. Me toma e me guia por onde nunca sei como voltar. Se esvai. Me deixa em lugar algum. Só e repleto. Constante e vazio. Descrito porém ilimitado. Invadido. Mas ainda sim - ó, inspiração - viciado.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Replay


A lua não esteve naquela noite. Não brilhou no cenário. Não fez trio no par. Não roubou a cena em minha vista. Pra falar a verdade não procurei por ela. Andei a procura de mim. Tentando me achar em outras materias. Das terrestres, imperfeitas. Nas bebidas na mesa. No refrão da música. Na calma. Em bocas. Fazendo-me de taça, com marcas depois de alguns goles. Arthemis estava lá àquela noite. Como poderia faltar? Não em lua. Mas sim, e não sei como. Sei que em pele, gotas, fumaças. Brilhou em minha mente hoje, porque sumiu naquela hora de minha lembrança. Perdeu o fiel espectador pra algo não tão belo, coisa não tão fria. Assisti risadas, assisti arrepios. Tudo de olhos fechados.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Da série 'Rascunhos': Eclipse Oculto

{...}
Now there's just no chance, for you and me,
there'll never be
And don't it make you sad about it

You told me you loved me
Why did you leave me, all alone
Now you tell me you need me
When you call me, on the phone
Girl I refuse, you must have me confused
With some other guy
Your bridges were burned,
and now it's your turn to cry
Cry me a river ♪

I know that they say
That somethings are better left unsaid
It wasn't like you only talked to him and you know it
(Don't act like you don't know it)
All of these things people told me
Keep messing with my head
(Messing with my head)
You should've picked honesty
Then you may not have blown it
[What goes around, goes around, goes around...Comes all the way back around]
Yeeeeeeah ♪

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Dois tempos

É sua essa temperatura
Era pra ser hoje. Já foi. Será.
Me corto em pedaços - me aqueça!
Me destino, me desvio, por vezes.
Vivi, escrevo e imagino.
Me desconcertei e te farei.
Nos mesmos minutos.
Na sua decada a mais.
O gozo, a reza e a parte nula.
Fervendo.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O sopro, o suspiro e as asas - parte 3 de 3.


Noite de frio. Começa então a passar pela mente quanto calor fez naquela manhã. Mas nada afasta a fumaça que sai da boca em todas as juras pensadas que são feitas. De frente, chega perto e traz calor. Mais perto, mais calor. Divide então a mesma pulsação no peito. Há calor aqui dentro. Há frio. Há frio aqui fora - cortante como vento que, por vezes, vem de dentro. Vento demais, brisa demais faz encolher as asas. Fechar-se um pouco. É de aprender a cada dia que há medidas para as coisas. A dose certa de suor no sopro ao pé do ouvido, a quantidade de suspiros que lhe cabem numa  temporada e a hora de fechar as asas e voltar ao ponto de partida - respirar. Respirar para quando novamente voar, tirarem todo esse ar.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O sopro, o suspiro e as asas - parte 2 de 3.


Abafado. Suor a escorrer pelo canto do rosto. Tecido colando no peito como metais e peles em queimadura de terceiro grau. O nariz - isso parece tão barulhento - inspira. A boca está a soprar o ar. Não, com um pouco mais de força. Aí, quase. E o coração a bater tão barulhento quanto as marteladas que os comprimidos não resolvem, mais alta que a inspiração - perdendo somente pra expiração e pra outro barulho qualquer não identificado. A face toma uma expressão de 'basta', logo fica um pouco sofrida e agoniada com mais uma gota que escorre dos cabelos para testa, para então sentir-se um pouco satisfeito. A decisão foi levantar, abrir a fresta da janela, ouvir o vento soprar. Gelado, aliviante e fazendo perguntar porque não o havia feito antes. Talvez, em meio a tanto calor, o vento pudesse trazer mais prazer do que se houvesse vencido a preguiça e corrido à janela antes. Na posição que antes estava, com a mente vagando e apagando todas as paredes, armários e objetos qualquer ao redor, puxa um ar de recentes lembranças e deixa-o sair pelas narinas devagar. Um suspiro. Tão mais aliviante do que aquela corrente de ar. Do que qualquer outra corrente. Como se esse ar pudesse ter arrastado tudo que estava no redor. Como se esse ar, e não a mente, pudesse fazer flutuar nessas lembranças brancas, neutras. Voar.

domingo, 20 de dezembro de 2009

O sopro, o suspiro e as asas - parte 1 de 3.

Yo suelto mi canción en la ventolera, Y que la escuche quien la quiera escuchar ♪'

Vento. Soprou-me um aqui agora. Em forma de palavras. Letras que se chocam com a pele numa ordem ousada de dizer verdades. Para que as mesmas aconteçam, e também todas as demais coisas que o vento traz, é necessário por os pés pra fora ou, quem sabe, deixar-se esquecer a janela aberta. Em alguns lugares dizem que ele leva a loucura, e crianças dizem que ele tornará eternas suas caretas. Balança, derruba, resseca, resfria - mas aqui não eterniza. Leva, limpa, varre. Como esquecer o que estava fazendo, correr para as primeiras gotas de chuva na rua, abrir os braços, cessar passos, pulsos, abrir a boca - e mesmo que dali não saia nada - gritar sua loucura ao mundo. Deixa que o sopro beije teus pelos, bagunce teu cabelo, ajeite teus braços como asas, tape seus olhos e leve tudo que de peso te impedia de voar. Leve. Voa. Aproveitar, soltar, que outro desse pode demorar a passar.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Ponto alto


Pintaria tua pele de vermelho deixar redor para as minhas marcas. Te deixaria me balançar. Perderia minhas palavras. Subiria teus degraus. Te faria desleal. Infiel. Te daria o pecado pelo perdão. Me desintoxicaria. Me sujaria. Faria rebelião nos meus anseios. Seus seios. Olharia a hora pelo gosto de perde-la. Faria-me cetico e mistico. A luz naquela janela. A mão da outra. Seria o pano que te cobre, a produção das gotas que transpirarias. Seu quinto elemento. Bica, de onde escorre tua agua. Tua ponte pra cá. Tua vista, cartão postal. Lágrimas de tua ira.Visão de teu ponto alto.
______________________
Pinto tua pele de vermelho deixo redor para as minhas marcas. Te deixo me balançar. Perco minhas palavras. Subo teus degraus. Te faço desleal. Infiel. Te dou o pecado pelo perdão. Me desintoxico. Me sujo. Faço rebelião nos meus anseios. Seus seios. Olho a hora pelo gosto de perde-la. Faço-me cetico e mistico. A luz naquela janela. A mão da outra. Sou o pano que te cobre, a produção das gotas que transpiras. Seu quinto elemento. Tua data certa. Bica, de onde escorre tua agua. Tua ponte pra cá. Tua vista, cartão postal. Lágrimas de tua ira. Visão de teu ponto alto.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Reservado



Espaço, linhas, post. Guardo em mim as canções. Tudo que vou cantoralar. As minhas palavras que serão usadas já podem lidas nas palpebras quando fecho os olhos. Reservado aqui meu encanto, minhas noites sem sono, meus dias de janeiro. Pensada a fuga, as poucas coisas numa mochila, os desvaneios pesando os bolsos da calça e a empurrando em direção ao chão. O que vou falar do tempo, o que posso fazer à mesa, como posso despir, falar, fazer, despedir. À curto prazo. Tudo guardado. Revisado. Ainda sim, sem planos. Todas as trilhas caminham pra gente se achar, né!?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Linhas Paralelas

No mesmo romance, mas narrados em linguas diferentes. O meu tempo é bem isso que meu reflexo mostra. Pleno e sem planos. Correndo em mesma velocidade, mesma direção, mas já em outra pista; vejo os sinais que me atraem. Sinais de luz que me iluminam. Atrai. Esse outro caminho, mais ao longe, a qual eu não percorro, necessita de mais do que posso me abastecer. São nossos tempos, nossas distâncias dando o tom amargo em todas as nossas nuances. Arriscando nosso acaso, nosso encontro, dialogo, caricias e futuro. Não chegam a impedir cenas nesse livro, marcas; mas impõe esse precipicio. Caminhamos juntos e, ao mesmo tempo, tão separados. Olhe num espelho pro passado e me veja ali refletido. Tal como te vejo no aço do reflexo de meu futuro. As nossas mensagens se perderão em nossas linhas do tempo - atrapalhando a comunicação. Feito a casa no lago, ou algo do tipo. Linhas paralelas, que ainda podem surpreender a física com toda nossa quimíca e nos fazer um só ponto nessa estrada.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Texto em dobro

Desfilo por essas ruas de pedra, com meus quatro pés, lançando mão - com muita ginga - de todos os meus manuais. Me contradigo. Divido o ar, a conta, o dezembro. Se na próxima esquina em que eu virar alguém me avistar, vai sabendo que acompanhando meu embalo poderia ser você. Se o acaso, destino, força maior nos controlasse. Não querer. Se das vezes que eu desse as costas a música triste não embalasse só a minha cena. As duas bebidas estacionadas no balcão, desfilando em minha mão, poderia ter outra direção. Mas não. E é mais divertido assim. Não há contagem de negativos, não há insistência, desistência, não falta paciência. Se depois que dobrarmos a rua, é bom saber. Não sei andar em linha reta. Poderia ter sido o meu batido 'para sempre'. Mas eu me dobro em outros corpos, novas canções. É uma pena. Agora, com a rotina quebrada - e parafraseando o Soul -, quando penso nisso, estou melhor sem isso.

When i think about it
I'm better off without it
{...}
That could've been you uh uh ♪'

sábado, 12 de dezembro de 2009

Camará

Cavei em minha morada poços, a perder de vista, repletos de meus sentimentos. Assim tornam-se profundos. Uns transbordam amor, dos fraternos aos shakespearianos. Outros enchem-se num movimento contrário feito por baldes e metros de corda. Reservando alegrias, aquecendo expectativas. Ah, aqui secaram-se lágrimas. Elas acabam por tirar a fertilidade da terra com seu excesso de sal. Há em tudo que sou, um tanto do muito que faz bem. Mais do que previa. Mais do que o solo seco e inabalavel que um dia prometemos a nós mesmo nos tornar. No que cavo - com unhas -, construo elevações com a terra que movo do lugar. Elas estarão sempre presente, farão, por vezes, tropeçar, sujarão o chão quando, outrora, o vento soprar. Há todo sacrificio, gotas de suor. Mas quando acordar naquela próxima manhã não precisará tirar o que lhe refresque do que já esta seco - leite de pedra, vacuo de poços. Há uma reserva, uma nascende e um moinho. É o que colho, o que me lavo, o que me valeu a pena. Obra que fiz nas diversas vezes em que pareci silenciado.

Nota do escritor: Este texto não tem semelhança com 'O mundo é um moinho' de Cartola. Não deste lado.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Texto tênue

O meu movimento só obedece comandos de um alarme vermelho criado pela minha mente. Os passos de merengue, sorriso de arte dos anos XX. Me vesti assim. Vestes do meu bom humor, do meu sarro e de toda minha malemolência. Mas é que só assim me vejo, só assim me faço, ensaio, enceno. E como as loucuras dos grandes moradores das ruas, torno-me bem esse embalo. De fora, pra dentro. Por completo, por contaminação, por alquimia. E no relance que ainda me vejo só no bolero, ou na face de um quadro 'tangled up in blue', aprendo a deixar de me corresponder. Deixar janelas abertas, deixar o ritmo no rádio, às cascas e a coreografia. Dignamente aprendiz no caos. Desordem. Torno-me toda luz que as cortinas não tapam. Tudo que está fora, errado, agitado e que sorri.

Sou o certo, sou o errado, sou o que divide
O que não tem duas partes, na verdade existe
Mas não esquece o que lhe fazem
Nos bares, na lama, nos lares, na lama
________________
Canta pra mim, Ney!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Toca Raul!


- All right, man!
Estou sentado em minha cama
tomando meu café prá fumar
trancado dentro de mim mesmo

...eu sou um canceriano sem lar

Eu tomo café pra mim não chorar
pergunto à nuvem preta quando o sol vai brilhar
- Play the blues!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Sinestesia


Eu não quero transformar pensamentos em palavras mas o hábito já criado me tira esses minutos, me coça a língua, me faz limitar. Abaixo o som pois já basta as letras que repetem-se na minha segunda mente. Eu desliguei os meus botões; cortei a força. Eu já acho o céu mais azul, e até as coisas que saem erradas parecem mais certas. Eu vago de noite, sem amarras. Cidadão de mim. Todo repleto de razões. Leve de emoções. Livre. Desatado, solto, nú e assim, percebendo o meu redor. Todos os sabores que sinto nas mãos. Todas as cores que sinto com paladar. Tantos toques que percebo no olhar. E nessas travessias de pedra, meu rastro pode ser ocupado por volúpia, por formas, desenvolturas. Mas esse espelho explodindo de egos e certezas hoje me mostra que nenhum outro passo deixara meu cheiro. Que nenhum músculo fará o meu som. Que nenhum conto de fadas parecerá com a minha ilusão. Com nada. E com tudo isso que hoje distribuo por ai em doses de romances e obscenidades. Que só se aperfeiçoa. Que embaraça e traz o inebrio. Que me faz cantar pelos poros:
Se você quer me seguir, não é seguro{...}
VAI VER SE EU TÔ LÁ NA ESQUINA,
devo estar.

Hoje eu quero sair só!