sábado, 24 de julho de 2010

Com mais açucar


A visão atravessando a fumaça, as pernas no embalo do balançar da rede, o paladar a repousar no restante de um último gole e o pensamento a vagar em alguma cidade submersa. Imerso nesse breu, lembro do que não aconteceu. A quântica rompida. Ah, se seguíssemos  nossos caminhos por uma mesma rua ...seria colo, noites, café da manhã com mais açúcar, rima com mais poesia. Está frio aqui e seria verão. Eu me afobo numa figura pela tela. E o que será?

Amores serão sempre amáveis ♪'

Com castanhas


Lembro. Estava imerso na visão do fim de tarde pela janela. E sentia o pulso de quem me dava as mãos. Havia ritmo. Rosto, rosto, oxigênio trocado e um silêncio na boca, um musical nos olhos. Há muito de mim em outros corpos e almas. Não há suficiente no que me cabe. Me transporto nessa sinfonia de pele e pensamentos para me preencher. Lembro, lembro. A noite caindo. A tristeza do tempo não parar. A esperança em no outro dia tudo se repetir, me encontrar em você. Feito encaixe de brinquedo de criança, feitos castanhas no doce favorito, feito beijo pra sede de saliva. Lembro de mim. Me reconheço agora. Sabia o sabor. 

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Picante


O cheiro morando em minhas glândulas olfativas. Suor feito traço de tinta óleo escorrendo em tua pintura mais intima. No silêncio o coração palpita e no mesmo ritmo. Nosso mesmo embalo. Descompassado num último 'alô', vingado à unhas nas costas. Brinde de lábios. Caminhos sinuosos aplaudindo a pele com a palma da mão. Contramão sinalizada.  E e deixe a despedida pra mais tarde . . .

Você é dedos que eu te quero, tocou
Você é beijo que eu te quero, beijou
Você é Vênus que eu te quero, soprou
Não sou desses homens, eu te quero ...atenção!

sábado, 17 de julho de 2010

Umami


Desventura de madrugada fria, com um pouco de chuva e chão a embaralhar suas pedras numa visão ébrio já habitual. Eu já não sei o que está tocando nem o que profanei logo agora que acabei de fechar a boca. Eu tenho um pensamento a vagar por algumas camas – quando fricciono meus lábios no teu. Num lapso, wake up, despertar, perceber, acordar, dar conta, eu procuro a manga de um casaco para desembaçar o vidro da janela e tentar enxergar algo lá fora. Existe mundo. Corre mundo em gotas de chuva. Ando cru e acentuado. Tem um borrão na minha visão. Você é essa noite mas já, já vai amanhecer. E quem é mesmo você? Eu não lembro como vim até aqui. Onde é aqui?Pode me passar meu celular logo ali do lado (?). Eu não sei o que fizeram com as horas. Baby, eu tenho que ir. Tenho uma manhã de sol pra quem voltar. Apelidos porque porque posso não acertar teu nome. Gradativamente, eu vou lembrar menos ainda.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Salgado



Eis que corro em energia pelos meus elos. Elos feitos em cor. Do que sustenta e não prende. Do que sacode em barulho cômico, que forma, segura, sustenta. Em alguma parte - lá pelo lado esquerdo do canhoto - há o desfeito em sombra. O que se corroeu feito exposto em maresia, que já não ata. Desprende! Não foi de tirar o sono, foi o de dar sede. Separa-se do tempero das novas obras, esconde-se das últimas horas, omite-se em alguns cabelos encaracolados. Ah, esse sabor que privam-se, a cerveja que já não põem em mesa. E essa água com gás pra acompanhar!? Tira todo o gosto que há.

sábado, 10 de julho de 2010

Meio-Amargo


Ah, esse papo sempre com cara de sábado à tarde. A letra dos hermanos, a foto com legenda especial, a cor, o som. Minha completa falta de rima, a extinção das minhas falas decoradas, minhas saudosas saudades. É como ver-se por aí, em alguns bons espelhos e pupilas um tanto quanto dilatadas. Como é bom encontrar um pouco de mim na esquina que dobro. O amargo é querer se perder. Como um desejo que cresce como saliva em baixo da língua, um bocejo não programado, um arrepio sutil. Ter consciência que és fonte de tudo que agrada no teu redor, jogar-se a isso, desprendendo suas amarras, gritando contra rouquidão ou – tão válido quanto – apertando o botão verde à sua esquerda.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Amargo



Ao pé da cama, palmas das mãos coladas, cabeça ligeiramente baixa e o reflexo da nuca no espelho. É o não se encarar, esperar a porta fechar para desabar sua feição em quatro paredes. Um nó na garganta, um futuro do outro lado da fechadura e todo o silêncio que lá faz. Desiste dos chinelos, e anda no ritmo das caixas de som ambiente. Deixa de pensar em chave, milagre, saídas de emergência ou plano de fuga. E dança, dança.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ácido



Repetir o desencontro de tantos encontros,
me chamar pra esse texto,
procurar a boca de todos os meus pares de ombros e,
tornar-se clichê.
Essa porção, um tanto quanto corrosiva,
nem um pouco enigmática, e um pouquinho fedida.
                              ...Ah, eu já nem lembro o sabor.   

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Doce


Meu conforto em vias de apego. Identificação de qualquer destas sombras, ou ainda – para os mais entendidos - do vento e do trigo. Meu verde, meu chi, meu zen. Todo sabor da minha canção em eterno play envolvendo-me em espectros flutuantes em que eu posso me apoiar. E sei da dificuldade de me tirar um saber concreto, mas é que o meio é mesmo tão abstrato quanto mutável.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sem sabor

Ascendente em Câncer


E se um dia me veres chorando
Partindo de dor
Como uma pobre coisa desgraçada
Como uma triste flor esmigalhada entre seus dedos
Meu amor, não enxugues o meu pranto:
Ri, ri teu sorriso de ouro!
Sacode tua vida como um guizo sobre a minha
E então deixe-me só
Fingindo que é de alegria que eu estou chorando♪'
(Filipe Catto)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Agridoce


Todo sabor que me invade, toda caricia plena, toda novidade, perfume, pele e aventura dá esse tom rosado no meu último reflexo. Todo dissabor, amargura, veneno, sal e planos batidos que não cortam o açucar e afeto. Há de ser bem mais esse querer que me aperta peito e põe pra dormir. Ah, esse contraste em monocor. 'Semicoisas' a tocar. Lingua pra provar. Eternidade pra debater.