domingo, 25 de abril de 2010

Leve na lembrança ou Cor de Mancha-de-olhos-fechados

Desacompanhado de inspirações, univitelina de paixão. Sou todo esse em jogo sincero de palavras nem tanto. Nos últimos contatos morei nas lembranças do que já me valeu. Não; nada de querer por na balança. Estava tudo no canto da mente, no verso da canção. Eu consigo lembrar das horas de palavras trocadas e do gosto de dormir repassando cada uma delas. Anote aí o encontro, o medo, o desejo, a trilha e a chuva. Porque algo menor não há de valer em belos contos. Esqueça que eu era ocupante de um cargo aberto em alma ou, qualquer coisa do tipo. Eu não estive ali para preencher vagas. Eu morei numa safra, num sofá, num som, num tom de cor chamado manchas-de-olhos-fechados. Eu fui além de mim, comemorei no ato, beijo e até no desencontro. Não fomos 'quem' ou 'aquilo'. Nem sei o que fomos. Não há de por nossos silêncios de entre frases em resumidas frases. Apenas, leve na lembrança.

sábado, 24 de abril de 2010

Do emaranhado

Tento aqui descrever algo que nem eu mesmo sei do que se trata. Estou aí diante de um desafio e não dificuldade. Nessa ânsia por buscas dessas palavras espero assim concretizar um entendimento. Aqui não há escuridão diante de minha crescida coleção de constelações – e que os céus estejam cientes de minha gratidão. Não há também vazio em meus copos meio cheios. É algo preso na distração à cinzas no chão, na borda de selecionadas nuvens, na nota falha de alguma canção, na bubuia. Meu detalhe despercebido é todo esse que em mim percebem. Um abstrato redundante preso na realidade dotada de falta de razão. Um todo complexo em cadeia traçadas de preguiça e covardia de exploração; a minha cena despercebida; o que quis e consegui esquecer – daí a justificativa de tal esforço -; ou uma outra suposição qualquer que dê no mesmo de tentar descrever algo partindo do nada. De notar que as regras dizem que se algo é retirado de um lugar, nada fica e, assim, não explica ter ido à outro lugar o que não explica isso não ter deixado de existir e, não explica o ar e tudo mais que ficou no lugar eximindo a ideia de que o nada existe e que há um todo perdido no que eu queria me explicar. É, talvez. Muito pra mim é tão pouco. Compreendo satisfações. Entendo um pouco menos, e diferença alguma isso faz. Não há como entender-se sem desligar-se do todo cenário em volta. E não um desligar que justifique qualquer ego-querer. E que fique o não dito.

sábado, 10 de abril de 2010

Poligamia


As pontes estão caindo. Percebo na solidão da espera de um telefonema – que não vai tocar, e eu sei disso – que acertos não se repetem. Lembro, com certo embaraço, de um último encontro. Me culpo, repreendo e estremeço por preferir outros tantos com mais volúpia. Volúpia suprema. Segui por caminhos só ou mau acompanhado. Desgastei, gritei, transbordei e gostei. Tanto quis que me livrei de todos os pesos; só que agora posso medir o meu só. A chuva molha tanto. O vento parece beijar as folhas com esses ruídos inebriantes misturando-se com a música que pus pra tocar e com roxo, vinho. Eu queria decalcar novamente aquele corpo com tinta de saliva; fazendo esse barulho de vento em folha. Acabou o sol, a safra ruim e o tóxico. Sobrou-me sinceras lembranças do futuro. Ando louco por vivê-las. Como viciado nesse embalo de coração em ritmo de percussão que outrora toca por aqui. Caindo, molhando. Nem queria ser bom o suficiente para dedicar frases a unidades. Essas gotas de chuva, minha pluralidade, poligamia. Como é que se ouve sol? A nossa música nunca mais tocou.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Três


Penso uma vez antes de começar. E nesta, só me perco. Como um andarilho que ocupa a mente com coisas triviais e confia num mapa que voa no primeiro vendaval. Eu não ensaiei, eu não caprichei no Armani, eu não disfarcei. Não há nada que sinto no que descrevo. Não há linhas retas, nem passo à frente. No que ficou em doce novembro foi amor, fui eu me inventando e me perdendo e de resposta resta o meu velho texto batido de 'não sei'. Foi certo em hora errada, talvez. Foi o querer mais que poder. Foi o quem sabe, o sei lá. O mais-que-perfeito e o não-saber-lidar. Foi pedir o eterno à mortal, foi complicar-me em metáforas alheias.

Penso pela segunda vez tentando me refazer. Era muito de mim. Era contrato de riscos. Mas sinto, essa noite, que era pouco o que emanava. Era carência, palco e luz. Tomei pra mim sentimento que não me pertencia – e sei o quanto complico nesse ponto de vista. Tem que haver um equilibrio entre aposta e números de partidas. Fui rompido, cruel, julgado. Me sinto repleto, sincero e claro. Eramos 1 e 1. Não dois.

Já penso pela terceira vez e constato que desta ainda sairei num silêncio repleto de palavras. Corto o pensamento, arranho nas notas. Hoje eu preciso de companhia pra falar do mar e até daquelas torres e caixas chatas. Daqui, do alto de meu egoísmo, descrevo o fato como comédia de Deuses brincalhões, tragédias de palavras não trocadas e fins sem beijos. Inicio, fim e – perdido num amontoado de traços futuros – meio. Eu queria ter certeza de estrofes, de nos reinventar.

Não há lugar pra lamúrias,
essas não caem bem.
Não há lugar pra calúnias ♫♪'{...}

sábado, 3 de abril de 2010

Gota de chuva, nota dó


Não há divindade, ou santidade, nos pingos de chuva que escapam pela ótica de minha janela. E tão certo como dois e dois são cinco, eu prefiro assim. Há uma brisa fria, que não é suficiente para que caiam gotas de suor ao passo que caem de agua lá fora. Ao meu lado, há as minhas recentes anotação repletas de prazo de validade e tento absorve-las em mente. E dentro em mim, há labirintos que a mente se ocupa vagando. Engraçado, chove lá também - e faz o mesmo calor! De fora, ando enrolado em lençois de lã pura e azul. Dentro ando me enrolando em emaranhados de tons, nada puros. No espelho, vejo-me deslocando feito pinturas de faces misteriosas. Acabo por rir disso. Eu já não sei o que reflito. Mas nos meus labirintos, sei por onde piso. Gosto do que me perco e sei que já deve ser difícil qualquer caminho de volta. Há brisa do lado de dentro também. Já disse isso!? Gosto de me apegar a ela, andar longe de paredes pra ver se posso aproveita-las mais. Já me perco nesses eus. Fui abduzido de fora pra dentro. E agora já não sei se ainda chove pra lá da janela.

{...}sinto o tempo descontente ao redor'

Sem laço; sem etiqueta


Ganhei esse embaraço. Esse clichê, esses circulos, essa passagem. Um silêncio concreto para resultarem nesse meu descrever abstrato. Essa sistematização redutivel do que falar, do que preciso declarar. Falo de prazer em acordar, exagero em saudade. Uma caixa grande, sem dimensões - espera, me fugiu essa palavra -, com horários e muitos planos. Ganhei outros daqueles dias.