quinta-feira, 30 de abril de 2009

Tarde cinzenta 2 - Um instante

Hoje moro nas lembranças. Tirei algumas horas pra me confortar por lá. Em cada riso e brincadeira que desenharam belas e particulares histórias. Me enrolei nesse cobertor de teias, num calor de afeto que hoje foi subtraído. Desafiando todas as leis, cheiro deixando marcas, músicas tornando-se cenas. Essas horas são das lembranças, das pessoas, dos verões, de todos os planos. São as horas que a gente se pergunta a lista de clichês. Coisas que vivemos só por vier, mas servem de saudades. Não, não vou morar nessas lembranças. São só horas contadas. O tempo acaba.

Tarde cinzenta 1

Bom dia!


A pior parte de você sou eu — Salvei essa frase no celular, ou em algum lugar e certamente achei que ela poderia dar um texto. Tanto tempo depois, será que eu já previa o ponto que as coisas chegariam!? Por fora sou todo amor, talvez, teu cais. Por dentro sou proveito, maré, defeito, colo e exaustão. Mas antes não foi; em cada instante que passou. Mas o presente já não tolera as mesmas falas, manias do passado. O que ficou de mim foi o 'velho texto batido' em desejo de ser todas as faces que puder e não compartilhar todas elas com um só alguém. Eu - felizmente ou infelizmente - não posso ser de ninguém, porque não sou nem de mim mesmo. Essa história nada cresceu, só se arrastou por entre afinidades e por uma especie de desejo recíproco. Não, e eu não sou Chico pra transformar abstrato em palavras. É tudo pra total entendimento de dois. Mesmo que se arraste, que caía um pouco, ou até canse, não há como ter tanto em palavras.

Pesos e medidas não servem pra ninguém poder nos comparar'

Mora em mim

A minha fome pede um drink. Meu desejo pede uma platéia. O meu sonho, uma cena. O sangue que aqui pulsa quer ser sujo e repleto de adrenalina. Toda a vontade é avassaladora. Todo pecado, febril. Todas as horas são só minhas; e, parte do tempo, perdido.
O gesto, voz, palavras, luz. Um conjunto de coisas que questionam qual herança deixar ao mundo. As palavras, a cena, o som, piso. Coisas que não se comem, que não se exibe, que servem pra existir e só. Pra te fazer ser e pra os outros sentirem.
Parede, portas, janelas, relógios, calendário. Um monte de algemas e correntes tomando outras formas.
Orgulho, ego e falta só mais um passo.
minha carne é de carnaval,
meu coração é igual ♪♪♪'

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Texto num papel de pão


Isis, eu quero um texto que exprima todo meu sentimento, todas as cenas - bonitas e trágicas - usando uma linguagem chula. Abrir o dicionário da mente e metarfosiar o cotidiano, coisas assim pra mostrar conhecimento, já era! Bem sábios são aqueles que dizem como 'tá foda' sem precisar narrar a entrada do ar nos pulmões. Dizer que 'essa porra toda é bonita' sem descrever a dança de uma fumaça na meia-luz. Quero o dom do dizer, não do escrever. Falar de feira, muro pixado, corno, grito, dinheiro, ônibus, vendedor e pirata. Saber o 'dito' sem a censura que a beleza dá à verdade. Parar de falar das chuvas quando se há mais coisas a se fazer com um pingo d'água. Falar em realidade sem estabelecer comparação com a ilusão. Falar sobre comer porcaria, assistir mentirinha e pôr à mesa a obra para comer, não admirar. Admirar nem é usufruir. Quero a bagagem daquele mendigo na porta da igreja que é bem mais extensa que o escrito no livro que fica na mão daquele homem fantasiado, dentro dela. Me perder no cordel mais do que na biblioteca de Alexandria. Na lata, bala, uma plantação e escrever num papel de pão.


Acordes em oferta, cordel em promoção A Prosa presa em papel de bala Música rara em liquidação {...} Talento provado em papel moeda Poesia metamorfoseada em cifrão
Atalhos, retalhos, sobras
a matemática da arte em papel de pão
Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior ♪

terça-feira, 28 de abril de 2009

Tarde cinzenta


O mundo parece sucumbir lá fora. Aqui dentro - quente e úmido - penso que essas quatro paredes são de aço. A chuva parece não lavar o desespero do ego das pessoas do outro lado. As vezes acho que elas deveriam boiar nesse mar que caí e, ir pra sei lá onde. Parece que só aqui me deixam viver. Que só no espelho ao meu lado posso ser eu mesmo; que, só enrolado aqui embaixo posso sentir a música que pus pra tocar. É o meu mundo, cada vez menor. E aquela lenda do menino que mora numa estrela deve estar dizendo que estou ficando como eles. E daqui eu mais nada posso dizer. Odeio pensar que mais cedo ou mais tarde vou ter que abrir aquela porta. Posso também adormecer aqui, ir lá em sonho. Ou só adormecer.


domingo, 26 de abril de 2009

Take to the sky




Vou ligar esse som pra não ouvir o barulho do pranto.
Apertar os olhos para não ver as estrelas embaçarem e,
aprender a sorrir quando ouvir: Child, the living's easy

ps.: woodstock - 40 anos. Nasci mesmo na época errada.
peace, love and music

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Porque não viver?

Porque não viver?
Não viver esse mundo
Porque não viver?
Se não há outro mundo

O tempo passa, e o vazio não é fome. Porque o 'passa' soa tão clichê? Acho que por ser algo obvio. Então o tempo, tempo e pronto. Sem por em segundo plano o vazio, tema principal do texto hoje. Não é um vazio de quem falte algo à me completar - algo que não sei o que é - não é isso. É o vazio pós subtrações. A vida (dando na cara) tirou pequenas coisas, grandes momentos e importantes pessoas. Sim, estão todas vivas. Não mortas em memórias, mortas em presença. Dizem disso (vida) ser um ciclo, não acredito, é mais clichê que o 'passar' citado anteriormente. Ela para, estática, depois de tirar o melhor. Pois é, a vida levou até o acento do 'para'. Essas não são palavras ditas pra serem tristes, ou metamorfoseadas na parte triste da natureza. São constatações e pronto. Mais nada. E não se assuste pessoa se eu - ainda sim - lhe disser que a vida é boa!

E prá ter outro mundo
É preci-necessário
Viver! ♪ Viver contanto/Em qualquer coisa/Olha só, olha o sol/O maraca domingo/O perigo na rua...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sombra de outro sonho

Naquela noite o tempo era marcado regressivamente para a hora de despertar outra vez. A luz da lua cheia pela primeira vez pareceu inconveniente; mais um fator a agravar seus pensamentos naquela noite. Era como se ali tivesse que optar, decidir o que mau entendia das perguntas; das quase nulas opções. Sabia que a brisa lhe ajudaria a dormir, então espera ouvindo o coração bater. Tenta dar-se um lema - verdade é qualquer coisa que pareça distante da palavra 'escolha'. Faz zum, zum. Engole saliva. E nada do sono. Perde a noção do tempo, aperta as pálpebras pra não ver o Sol nascendo [não ainda faltam horas e horas]. Será que demora? Entre tantas perguntas de nada serve mais uma. Reconta todas as suas perdas, todos seus ganhos. Há a segunda opção? Subtrai, subtrai subtrai... Levanta, cumpri mais um ritual. Fecha a janela, deita. Não dorme. Naquela noite o tempo era marcado regressivamente para a hora de despertar outra vez. A luz da lua cheia pela segunda vez {...} Sorri, e dorme.

Outra noite
Outro sono

Como se eu sonhasse o sonho
De outro dono
Outro fumo, uma outra cinza

Outra manhã
Mordo a fruta
Outro é o sumo
Ando pela mesma casa
____________________________________________
Com outro prumo, outra sombra, outono

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Visita



Um dia ei de bater novamente à porta daquela velha casa de madeira,
cheia de parâmetros rústicos de pregos saltando o assoalho,
de tapetes em palha e cheiro de suor.
De lembrar o susto de ao entrar lá não encontrar vazos ou cortinas.
Do gosto estranho da água daquela casa perdida num matagal de feixes de luz.
Ei novamente de me perder sabendo o caminho de lá.

/em branco

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Dois pra lá; Dois pra cá

Esse texto foi feito só pra ser mais um daqueles conjuntos de códigos e metáforas que usamos quando queremos dizer algo que possamos negar ao nos arrepender depois. Tão comum quanto covarde. Começamos tentado encontrar uma palavra que substitua 'amor', por isso é difícil começar um texto. Posso citar luz ou ar. Coisas vitais que não damos importância. Daí parto pra cena, usamos aquelas coisas melódicas pra dizer algo do tipo 'como a beleza estava presente em você naquele dia'. Aí vem sempre algo relacionado ao tempo; só pra dizer que lembrou do passado ou dos planos para o futuro, no momento. E a música (a peça chave), todos rodando, rodando. Talvez só dois pares de pés estivessem a observar sua letra. Acompanhado no pé, dois pra lá. Acompanhando na boca, 'o amor deixar marcas que não dá pra apagar'. Dois pra cá. Receitas simples de como codificar seu texto, essa é uma entre tantas outras. Mas nunca palavras vão descrever ao certo momentos. Nem videos ou coisa do tipo. Não me pergunte o que descreve, se não perco o passo.

Minha cabeça rodando
Rodava mais que os casais
O teu perfume gardênia
E não me perguntes mais

A tua mão no pescoço
As tuas costas macias
Por quanto tempo rondaram
As minhas noites vazias

São dois prá lá; dois prá cá...