quarta-feira, 29 de abril de 2009

Texto num papel de pão


Isis, eu quero um texto que exprima todo meu sentimento, todas as cenas - bonitas e trágicas - usando uma linguagem chula. Abrir o dicionário da mente e metarfosiar o cotidiano, coisas assim pra mostrar conhecimento, já era! Bem sábios são aqueles que dizem como 'tá foda' sem precisar narrar a entrada do ar nos pulmões. Dizer que 'essa porra toda é bonita' sem descrever a dança de uma fumaça na meia-luz. Quero o dom do dizer, não do escrever. Falar de feira, muro pixado, corno, grito, dinheiro, ônibus, vendedor e pirata. Saber o 'dito' sem a censura que a beleza dá à verdade. Parar de falar das chuvas quando se há mais coisas a se fazer com um pingo d'água. Falar em realidade sem estabelecer comparação com a ilusão. Falar sobre comer porcaria, assistir mentirinha e pôr à mesa a obra para comer, não admirar. Admirar nem é usufruir. Quero a bagagem daquele mendigo na porta da igreja que é bem mais extensa que o escrito no livro que fica na mão daquele homem fantasiado, dentro dela. Me perder no cordel mais do que na biblioteca de Alexandria. Na lata, bala, uma plantação e escrever num papel de pão.


Acordes em oferta, cordel em promoção A Prosa presa em papel de bala Música rara em liquidação {...} Talento provado em papel moeda Poesia metamorfoseada em cifrão
Atalhos, retalhos, sobras
a matemática da arte em papel de pão
Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior ♪

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