segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Gole


Pego em típicas conversas no fim da garrafa. Perdi-me um pouco em efeito do tinto e na lua que tem se exibido nos últimos dias. As preocupações tinto suave das safras quando recente. Havia fermentado à pouco. Imaginava, para agora, outros rótulos. Antes pareciam metas, ou destino. Agora definem-se sonhos – no sentido mais abstrato e bobo da palavra. A qual adega fui reserva-me? Acreditava em algo maior que o agora. Melhor e em tom mais forte. Por vezes, sinto-me traidor de mim naquela safra. Outras... não, não. Hipótese inexistente. Pisado, feito uva, para ser um belo tinto seco. Perdi o doce da fruta. Ganhei o efeito ébrio e inconseqüente. Confesso: um pouco do que sempre quis. Estava como os melhores e que resistiriam por mais tempo nas cartas. Mas derramei-me nas voltas de modernas taças. Ganhei formas estranhas e fui obrigado a adaptar-me à estas. Levado à alguns lábios que somaram em mim alguns sabores. Doces e amargos. Outras taças no entanto, independente de lábios e degustação, me tornaram um tinto suave barato – do tipo que não se especifica safra, sempre nova, barata, adocicada e um tanto enjoativa. Ouve os bons paladares. Fui bem degustado. E também cuspido por profissionais. Mais seco. Quase vinagre em tantas mudanças. Irreconhecível sabor à descrição do rotulo. E como definir-me agora?

Quero criar o meu próprio pecado, quero morrer do meu próprio veneno.



sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Amores Gris


Divagar. Sobre pôr os olhos no que resta de luz da noite nublada. Procura insana por sono. Mais parece grito de socorro. É mais força involuntária para refugiar-se do possível e desaparecido sono. Ah, os clarões que vagam em mente. Insensata busca por não cessar-se e sucumbir-se.

De vagar. Flutuar mente ao passo que os pés balançam involuntários em cama elástica. A esquecer-se do trocar de pés pelas mãos. Distração em doses homeopáticas. Exaustão, por vezes. Lembrete amarrado ao dedo: 'respirar' (era para não desejar mais). De vez em quando faz bem.

Devagar. Aprisionar o físico no correr solto da força do pensamento. Libertar – a ferro, fogo e fumaça - algumas amarras. Andar algumas ruas, despressurizar em léguas. Andar afim de completar o ciclo. E fé que esse exista. Anda, por vezes, a mostrar-se. Um dia desses. Qualquer dia desses. Recriar.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Da Primavera


Cultivo una rosa blaca
en Junio como en Enero
para el amigo sincero
que me dá su mano franca.
Y para el cruel que me arranca
el corazón con que vivo
cardo ni ortiga cultivo,
cultivo una rosa branca.


José Martí

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Segundo Plano

07/09/2010
Talvez eu tenha depositado minha atenção na última xícara de café. Tal como devo ter feito com os últimos risos, noites, copos e corpos. Estava a procura do que me desvie e me insira numa ilusão repleta de prazos de validade. Mas sequei a última gota. Tocou a última nota do disco da Riva. Surgiu-me agora esse bloco notas. Esse encontro com o que me distraio para não ver. Se trata de um marasmo, uma rotina, um emaranhado. Circula em segundo plano na minha mente o vácuo que pedaços de mim tem deixado. Me negava essa sinceridade que a falta de ocupação fez resplandecer. Um pouco de culpa por chegado até essa última gota sem arrependimentos. Um pedaço de dor por ter rompido elos. Muito de saco cheio por sentir um tanto quanto distante a liberdade em chão de pedra que já pude ter. Me falta esses blocos. Essa cor para o caderno 'colour me free' à R$1,99 na banca. Aquele sonho que a gente costuma sonhar acordado. Agora surgem pingos que não de café. Em grande quantidade e caem do céu escuro demais para a hora em que escrevo. Respinga aqui e já posso me distrair novamente. Posso deixar de falar da corrente partida, da cama vazia, das páginas em branco, dos e-mails sem resposta, do zumzum e mé. Transporto minha atenção pra sinfonia de instrumentos em folha, gotas e vento. Essa sinfonia improvisada, invejada e nostálgica. Para o pior dos silêncios que é o do ouvido que não quer escutar.

domingo, 19 de setembro de 2010

Perfeitamente

Entra e sai
e volta e vem e vai
Surge e some
agora não quer mais.
Eu jurei parar,
cortar. Eu sei que amanhã
vai embora e eu ficarei pra trás.
Não diz nada. Eu digo mesmo assim,
se contém e eu já não caibo em mim.
Eu jurei, eu sei, perfeitamente que é o mal
que me faço e faço até o fim.

eu que to sem chão no alto da gangorra,
eu jurei mas sei que já não juro nada,
eu já não tenho quem me socorra,
já não é minha a minha palavra.
Eu me rendo outra vez e o declaro
outra vez você me amou por um segundo
agora o céu vai ficando claro
você me esquece e eu me afundo
hummnmnm...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Amor em demanda 2


Estão todos no ar, ao redor. Estranhamente com olhares de percepção. Eu posso sair por essas curvas, devastando cinco sentidos, ou posso sentar aqui e esperar a poeira baixar. Posso rasgar esse tormento, procurar pelo sentido sexto, de quebra, devastar-me. As sensações caminham descoreografadamente pela minha pele. Há algo que me compõe nessa multidão. Resultado de uma soma de tantos corações. Visão em túnel. Susto e espreguiçar. Erguer as pálpebras e a coragem. Livrar-se dos cobertores e da agonia. Resta o dia inteiro.

Chão frio. Luz à cegar. Ouço o vento e automóveis. Cessam. Ouço vozes que estão em mim.  

domingo, 12 de setembro de 2010

Bocejo


O desejo é só de permanecer. Assim, ó. Os braços um pouco mais pra cá. Agora deixe-me cobrir os pés. Pronto. Inerte, vegetativo. Assim pelo resto do ano. Se não der, só esse mês. Me contento. Tá, eu tenho um pouco de fome, mas não tem outra coisa que queira saborear. Será que a sede tá vindo? Já vi que vou ter que levantar. Não existem mesmo esses feitiços de conto, né!? Espera, existem sim. Começam na vertical. Eu tenho oxigênio e lençol – pra que o corpo quer alimento? Eu tenho preguiça. Eu não tenho chão. Eu sou repleto de vontades. Agora eu quero nada. Quero um 'pause'. Um sono, um sonho. Desbravando a textura da pele, friccionando com o colchão. Inebriado. Pesado para o mundo tal como as pálpebras para os olhos. Exausto do descanso. Até o próximo primeiro segundo. Quem é que está ligando agora?  

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

RE: Spam


Enviada:terça-feira, 7 de setembro de 2010 1:00:23

Eu não vou ser tão cara-de-pau e te pedir desculpas pela demora da resposta desse e-mail mais de um ano depois. Confesso apenas, que só o vi agora, e li horas depois. Com mais coragem. Tão pouco me aprofundarei em sentimentos da época; prometi a mim mesmo tomar cautela pra não interferir no seu tempo presente. Por sinal, nem sei se você quer que eu responda isso agora. Sinceramente, acho que não. Mas eu não ficaria bem comigo mesmo se não o fizesse. Nem me chamarei de egoísta agora. 

Serei redundante se falar que por diversas vezes avisei como sou? Que sumiria? Que não gostava nem gosto de porquês? Queria deixar claro que foi curto, proibido e maravilhoso esse nosso tempo. Que nunca fui tão meloso, atencioso, respeitado, amado, iludido e um pouco aprisionado. Eu tenho gosto por quem já percorreu alguns anos na minha frente, mas isso não interfere naqueles meus 19 anos. Eu queria esvaziar toda a minha imaturidade, mas não tirar os pés do chão. Flutuamos demais, e nos perdemos em experiência, idades, distâncias e tudo isso que usamos de desculpas para disfarçarmos erros. 

Não sei se vou cortar com a verdade, mas cansei de prolonga-la. Eu cansei de não ser suficiente. Enchi a paciência das 30 ligações diárias serem menos que as 31 do dia anterior. Não me senti na fase de encher meus ouvidos com metáforas de torres e caixas todos os dias de manhã. Me senti cobrado, cobrado e cobrado. Não te disse nada. Apenas sumi para que se o arrependimento batesse eu pudesse fazer alguma coisa que - pra ser sincero - eu nunca planejei o quê.

Eu vou quebrar muito minha cara nos meus relacionamentos, porque espero demais dos outros. Pude, com você, me sentir do outro lado da situação. Não me leve a mau. Não foi de propósito. Minhas palavras eram sim verdadeiras. Meus sentimentos, minhas juras, meus versos, meus sorrisos e meus gozos. 

Por vezes me senti seu troféu, sua vingança pra ex-amores, um número na lista. Terceiro. Ou sei lá que número eu era. Por outras me sentia completo, amado, querido, repleto ... Eram muitos "sentir" pra nossas poucas semanas, pros meus 19 anos, pra minha personalidade.

Eu tô bem. Mas estava melhor com você. Eu tô com culpa. Mas quero continuar com minha solidão e minha culpa. Passei por algumas coisas desagradáveis nesse ano e agora posso ver que não deveria ter crucificado quem me feriu algumas vezes. E não te julgo se quiseres fazer isso comigo. Pode me condenar. Quem sabe um dia tenha esse clarão de respostas que agora tenho. 

Eu não sou o tipo de cara de amores nem de orgias. Eu transito entre dois lados. Ainda tenho tempo. Temos tempo. Temos essa ligação de céu em noite de lua linda. Queria te dizer que fui parar num show na praia, numa cidade que não era a minha e nem a sua e, sabia que você estava lá; pensei que deveria estar perto do mar... e depois você me confirmou que estava. Eu não pude entender até hoje. Nunca fui dessas coisas pouco práticas. Conto isso porque não posso negar nossa ligação em fios invisíveis.  Não posso dizer que são relacionamentos e que temos que aprender com isso e em alguns dias passar pro próximo. Somos mais profundos que datas de validade em rotulo de vinhos com morango, não acha!?

Tenho que parar de ser frio e te falar da segurança, das cores, do cheiro bom, da pele, do prazer, dos sinos, do embalo e de tudo mais que você me trouxe durante nosso tempo. Tempo que me transporto por esses instantes em que te escrevo sem parar os dedos nesse teclado. Assim, cuspido. Não dá pra esperar por mais um minuto. Se pudesse experimentaria mais um de nossos bons dias pra ver se tomei a decisão certa. Mas não brincaria com coisa assim. Não me vejo mais na hora do recreio e tão inconseqüente. 

Ah! Não me pergunte o que sinto hoje. Porque eu não sei, de verdade. Já sentiu isso antes? Mas tão pouco quero saber. Aprendi algumas coisas nessa vida presente, e não vou remoer mais esse tipo coisa. Vamos partir.

Ainda quero sua felicidade como quero a minha. 
Só que não a mesma.

...não sei bem porque.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Spam

Tipo de coisa dobrada e não lida que você encontra tanto tempo depois e se transporta pra aquele tempo. E de que tempo estou falando agora? Este em que me perco, me culpo, me livro. Que estou imerso, submerso agora.. Mais dobrado e esquecido que e-mails que não foram lidos por se confundirem em um balaio de spams.


Enviada:segunda-feira, 24 de agosto de 2009 16:58:01




meu homem lindo,

tenho meus desejos de tê-lo perto, e acabo quase estragando o 'nós'... é que você é tão lindo e interessante e especial e inteligente e tudo mais, que fico ciumes de te ver sempre tão belo longe de mim... de não poder gritar do outro lado nosso amor, porque ainda é cedo pra o que outros poderão sentir!
Não o coloquei em um pedestal alto nem baixo de mais, por não gostar de pedestal, te coloquei em meu caminho como meus passos... quando olhava em volto, o único desejo que tinha era de encontra-lo, de senti-lo... ou ao menos um torpedo, telefonema... saber que você ainda pensa e lembra de mim, mas não vinham! então suas palavras eram tão belas e perfeitas, que tive medo. medo de não precisar eu estar ali, medo de você ser mais feliz quando fico dentro dos silêncios! Tive medo de você não mais desejar que esse alguém que te faz sofrer e feliz ser eu!
Você além de sumido andava tão distante, e quando o procurei parecia que todos tinham noticias suas,sua atenção... então percebi que estava bem! mas ambiguamente sentir uma dor por não me perceber ali!
Desculpas mesmo, se eu sempre falo coisas pesadas... se sou meio melodrama mexicano!
(lembrando de um caso de Kalar) eu não irei me matar, nem odia-lo nem te desejo mal algum!
quero livre e sonho que sejas livre por vontade comigo!
Amo muito você!
não posso encontrar ninguem melhor nem pior que você para amar ou sonhar {...} sendo você o melhor e o pior de mim: meu infinito particular!

{…}

com você ao meu lado, com seus olhos ao alcance dos meus é como se o mundo tivesse um brilho próprio e isso me faz perceber de verdade quem sou... mas quando estás longe dispensando esse sorriso lindo aos outros do mundo, vem a insegurança de alguem tira-lo de mim... pois não sei se merece tanto! mas sei que quero você comigo! 
Te amo meu lindo
e por favor... ainda que as palavras lhe faltem... seja sincero e diga pelo menos isso mas não me condene ao frio sombrio do silêncio por tanto tempo! 
- e perdão por lhe meter medo... a culpa não é minha completamente" sou é responsavel fundamental é bem verdade! mas se você me der a mão e me ensinar podemos construir lindos ecossistemas juntos!
"aonde está você agora?" - pergunta literal e metafórica: preciso saber aonde está você no sentido de saber onde devo ir!
Se devo ir pra longe
se devo esperar você chegar
se devo desistir (o que não faria, mas poderia tentar fingir)
se devo ir te buscar 
se devo insistir
onde está você agora?

{...}

brinquei de caminhar e sentir o vento... e perguntei ao sorriso no céu o que devo fazer pra te encontrar mais perto!

sábado, 4 de setembro de 2010

Que me invada

Ando com texto pronto e percorro a vida alheia com conselhos práticos. Abri um vinho com as últimas verbas - e olha que hoje é dia 3. Giro cálice e procuro desenhos em fumaça. Eu balanço os pés, conto telhas, paro livros parados no meio, sussurro palavras e estalo dedos. Já não sei porque não coloco muito açúcar no café, nem porque pego no sono tão rápido. Tive vontades estranhas, como ver TV e comer chocolate. Eu sonhei que estava debruçado em peitos e acordei mais feliz em ver o travesseiro. Eu seleciono músicas, amendoins e amores. Eu tenho em mim estes gestos de espera, essa ansiedade por nada e esse monte de respostas sem perguntas. Ando me achando normal cada vez que contabilizo algumas loucuras e paranóias. Já não vivo o agora pensando em contar depois. Não ligo para os meus descartes, devaneios, alucinações. Eu quero prolongar o gosto do beijo, mas por vezes preciso parar pra respirar. Eu quero o longo de toda a noite, mas logo vou ter que acordar. Eu quero mais do que muito. Satisfação. Eu já não quero nada. Mudo de opinião tão depressa. Logo volto atrás. Eu fecho os olhos, me volta outros olhos. Luto para não me amargar, para não lembrar e para relevar. Danço com mãos em outras peles e é só pra me treinar. Ainda balanço o mesmo pé; prossigo no mesmo parágrafo e espero pelo titulo. Viciando em cada verso que o amor veio trovar.
.

E nessa Saga venho com pedras e brasa
Venho com força, mas sem nunca me esquecer
Que era fácil se perder por entre sonhos
E deixar o coração sangrando até enlouquecer