terça-feira, 24 de agosto de 2010

Amor em demanda

 velho, 11/08/2010

Eu procuro em outros olhos a janela que um dia vi futuro. Meu reflexo noutras pupilas. Visão caleidoscópia, imaginável, possível, quiça, quiça, quiça. Procura. Na cor dos olhos ou num listrado; numa fumaça, num esbarrão, num banco. Procuro na imperfeição a plenitude dos  poros de minha pele num repentino arrepio. Ando pisando nas novelas do caminho, atravessando os olhos, correndo léguas d'alma dali. Ando extinto na compreensão. Agora, deitado recordando e, entregue a loucura que trás o vento uivante desobedeço minha expressão de mais dura face. Eu corro os olhos no teto, como ataques de cães pela grama com semi-latidos. Já não há branco, paredes, luz ou teias de aranhas; estou a percorrer lembranças em visão periférica, 180º, fúteis e secas. À descansar sobre um tecido que percebo nada ter a ver com a pele que me envolve num pensamento. Por vezes, dá para me ouvir respirar. Duplicado, repartido, pertencente alma de dois ou mais corpos. Me completo assim: desfeito, disperso, amante e um pouco generoso. Há partes de mim por aí, me aproximo delas quando me distancio à pensar. Não me perco sozinho. Ainda restam estrelas apontando o navegar pela fresta da janela ao lado.

Já vejo escuro. Não escuto tanto o vento. Ouço trechos da respiração. Já não ouço. Adormeço em ti.

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