sábado, 18 de dezembro de 2010

Das vestes do acaso


E eu que pensei que dezembro não fosse render qualquer momento ao qual eu o pudesse dedicar palavras. Tal como pensei, por diversas vezes, que as noites não me renderiam mais que algumas risadas e drinks. Eu conto agora, na linha do tempo, redores da vida sempre mutante. Converso sobre coisas do passado, dedicando sentimentos diferentes ao que hoje é lembrança; o futuro deixei resguardado. Ele andou cumprindo os dizeres das runas. Amanhã é abstrato, distante e independe de ontem. Percorro a pele nos lençóis, forço as pálpebras, reclamo da luz - mesmo que voz ainda durma um pouco - e a cada gole do café, traço, involuntariamente, os planos até que eu volte à mesma cama. Somos fadados a isso. À dinastia de escrevermos o roteiro do nosso espetáculo cotidiano. Ainda que saibamos dos acidentes - e esses sempre acontecem. O não previsto mais que esperado. Uma certeza que abstraímos a cada primeiro bocejo do dia ou primeiro passo da porta de casa. Que acidentalmente rasgam os planos. Pode ser uma chamada num telefone, uma música ou um encontro. Acidentes assim. Bater os olhos acidentalmente em outros olhos. O encanto do não esperado. Se nos falta um botão de pause para os mais sublimes acidentes, bocejamos na próxima manhã e fazemos os mesmos inválidos planos. O velho vicio humano. Cíclico. Maníacos em ignorar o acaso (palavra que apenas veste o que se chama 'destino'). E é tão render-se a tudo isso. Confiar no caminho, fingindo para si não saber que amanhã o mesmo estará repleto de novos atalhos. Tudo que ilude é o que atraí olhos humanos.

Um comentário:

Curinga disse...

Quanta mágia e tranquilidade num texto cheio de detalhes... Acredito eu que só quem viveu isso pode de fato sentir o texto na sua excência.

Sucesso!!