segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O sopro, o suspiro e as asas - parte 2 de 3.


Abafado. Suor a escorrer pelo canto do rosto. Tecido colando no peito como metais e peles em queimadura de terceiro grau. O nariz - isso parece tão barulhento - inspira. A boca está a soprar o ar. Não, com um pouco mais de força. Aí, quase. E o coração a bater tão barulhento quanto as marteladas que os comprimidos não resolvem, mais alta que a inspiração - perdendo somente pra expiração e pra outro barulho qualquer não identificado. A face toma uma expressão de 'basta', logo fica um pouco sofrida e agoniada com mais uma gota que escorre dos cabelos para testa, para então sentir-se um pouco satisfeito. A decisão foi levantar, abrir a fresta da janela, ouvir o vento soprar. Gelado, aliviante e fazendo perguntar porque não o havia feito antes. Talvez, em meio a tanto calor, o vento pudesse trazer mais prazer do que se houvesse vencido a preguiça e corrido à janela antes. Na posição que antes estava, com a mente vagando e apagando todas as paredes, armários e objetos qualquer ao redor, puxa um ar de recentes lembranças e deixa-o sair pelas narinas devagar. Um suspiro. Tão mais aliviante do que aquela corrente de ar. Do que qualquer outra corrente. Como se esse ar pudesse ter arrastado tudo que estava no redor. Como se esse ar, e não a mente, pudesse fazer flutuar nessas lembranças brancas, neutras. Voar.