domingo, 26 de julho de 2009

O segundo


Pego-me na necessidade de voltar a falar do tempo. Pra ser mais sincero no presente. Vejo que não é possível falar – ou até mesmo viver – este, sem que o passado e o futuro sejam, consciente ou inconsciemente, citados. A cada atitude do presente contabilizamos às suas consequências posteriores. E, parando pra olhar o passado, o presente é resultado do que contabilizamos no ontem. Então, saio da terceira e fria pessoa pra falar na primeira e sonhadora. O futuro me visitou hoje. Ele veio coberto de palavras bonitas nunca pronunciadas em idioma algum. O tipo de coisas que se diz em silêncio. E na sua outra face trouxe todos os anseios, medos, perspectivas e a grande possibilidade de um dia, novamente, eu - infelizmente - acordar. É como se essa visita fosse apenas um cenário, sem corpo ou almas humanas. O cenário é o grande palco deste sonho. Posso imaginar toda a plateia ou até mesmo quem estará debaixo do meu foco de iluminação. Sem saber se haverá comédia, romance ou tragédia. Desta última nos lembramos mais. Daí o medo de abrir os novos contos e a vontade racional de fechar à porta na cara do futuro que veio a visita.
Detesto esse meu lado racional. O oposto também me dá medo. Vi com este primeiro que de nada adianta voar sem saber pra onde. Mas com o segundo me sinto tentado a alçar o voo mesmo assim. É com o lado lógico persistindo no futuro que não se faz do presente algo completo. Mas estou repleto de você. Da cabeça aos pés.

2 comentários:

Amanda Silveira disse...

quanta confissão num texto só!

Unknown disse...

Para quem fala de racinalidades, suas palavras se fizeram uma bela declaração de amor.
Que todos tenham a chance de sentir repletos.

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."
(Clarice Lispector)

Abração