sábado, 10 de abril de 2010

Poligamia


As pontes estão caindo. Percebo na solidão da espera de um telefonema – que não vai tocar, e eu sei disso – que acertos não se repetem. Lembro, com certo embaraço, de um último encontro. Me culpo, repreendo e estremeço por preferir outros tantos com mais volúpia. Volúpia suprema. Segui por caminhos só ou mau acompanhado. Desgastei, gritei, transbordei e gostei. Tanto quis que me livrei de todos os pesos; só que agora posso medir o meu só. A chuva molha tanto. O vento parece beijar as folhas com esses ruídos inebriantes misturando-se com a música que pus pra tocar e com roxo, vinho. Eu queria decalcar novamente aquele corpo com tinta de saliva; fazendo esse barulho de vento em folha. Acabou o sol, a safra ruim e o tóxico. Sobrou-me sinceras lembranças do futuro. Ando louco por vivê-las. Como viciado nesse embalo de coração em ritmo de percussão que outrora toca por aqui. Caindo, molhando. Nem queria ser bom o suficiente para dedicar frases a unidades. Essas gotas de chuva, minha pluralidade, poligamia. Como é que se ouve sol? A nossa música nunca mais tocou.

3 comentários:

Caco disse...

Lindo.

Anônimo disse...

Muito legal seu texto!
Parabéns!

"Como é que se ouve sol?"

Diogo de Oliveira disse...

"fazendo esse barulho de vento em folha". Gostei.