domingo, 28 de março de 2010

Parede da memória



- Ah, não me olhe assim. Você pediu pra que eu fosse sincero. Ta vendo que nem sempre é melhor dizer a verdade? Mas então, não é nada demais. Porque você está rindo!? Acho normal. Muita gente faz o que eu fiz mas poucas chegam no final – como eu agora – e ainda tem cara de contar isso. Te mirei desde aquela primeira vez. Sério, pus na minha lista de 'objetivos de vida'. Vai, fique rindo. Te risco fácil da lista. Agora quem brinca sou eu. Não, espera, beijo só depois que eu terminar de contar. Tinha planos piores, mas nem resisti. A ideia era ir embora assim que caísse a primeira peça de roupa. Uma desculpa qualquer. É, sério. Uma dúvida na sua cabeça e você iria atender minha ligação fácil, fácil no outro dia. Se bem que eu acho que não ia nem precisar ligar. O que? Ah, não, não é que você seja irresistível. Muito pelo contrário – ás vezes foi só um cinto que demorou de abrir, por exemplo. Me desconcentrei. Talvez fosse sua falta de fotos naquela banquinha ali. Ou cansaço de ter que ir embora. Ah, não faz essa cara. Pode ter sido sua pele e a confusão de aromas florais. Hum. Posso gostar do cheiro de fumaça que está aqui. Acho que quis entupir meus poros com essa confusão de cheiros, morrer de sede com nosso exercício, sentir essa fome como nosso efeito colateral... deixa eu terminar. Cortou minha linha de raciocínio. Que? Então não me faz pensar mais. Eu prefiro assim.

{...}

- Do que estavamos falando mesmo?

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